
A situação chegou a um ponto insustentável. A Justiça do Rio Grande do Norte não teve alternativa — interditou a cadeia pública de Ceará-Mirim, e a decisão veio como um soco no estômago do sistema prisional potiguar.
O que se via lá dentro beirava o inacreditável. Celas concebidas para abrigar poucos detentos amontoavam mais de quarenta pessoas. Quarenta! O ar pesado, a falta de ventilação, condições sanitárias que faziam qualquer um sentir náuseas apenas de imaginar.
Um cenário de caos e desrespeito
Parece exagero? Infelizmente, não é. A superlotação atingiu níveis críticos, transformando cada metro quadrado daquela unidade em um espaço de tensão permanente. Os presos — seres humanos, não podemos esquecer — viviam em condições que desafiam qualquer noção básica de dignidade.
E o pior: essa situação perdurava há tempos, como se ninguém visse, como se fosse normal. Até que a Justizia resolveu agir.
Medida extrema para problema crônico
A decisão judicial não veio do nada. Representa o esgotamento da paciência institucional com um problema que se arrasta há anos. A interdição determina que novos presos não podem mais ser encaminhados para Ceará-Mirim — ponto final.
Mas aqui surge a pergunta que não quer calar: e os que já estão lá? O que fazer com essas dezenas de pessoas amontoadas como animais? A resposta, francamente, ainda parece nebulosa.
O Tribunal de Justiça do RN assumiu a responsabilidade, determinando a transferência dos detentos para outras unidades. Só que todo mundo sabe — o sistema prisional potiguar já opera no limite há tempos. Onde colocar mais gente?
Um problema que vai além das grades
O caso de Ceará-Mirim não é isolado, longe disso. Reflete uma crise nacional que parece não ter fim. Superlotação, falta de condições básicas, violação sistemática de direitos — o retrato de um sistema quebrado.
E enquanto as autoridades discutem soluções, seres humanos continuam vivendo — se é que podemos chamar aquilo de vida — em condições que envergonham qualquer sociedade que se pretenda civilizada.
A interdição é um primeiro passo, sem dúvida. Mas será suficiente? Duvido muito. O problema é estrutural, profundo, enraizado em décadas de descaso e políticas penais equivocadas.
O que acontece em Ceará-Mirim serve como alerta vermelho. Um sinal de que o sistema não aguenta mais, de que está prestes a colapsar de vez. E quando isso acontecer, quem pagará o preço?