Morte de jovem de 28 anos após cirurgia plástica expõe clínica irregular em SP
Jovem morre após cirurgia plástica em clínica irregular

Tragédia familiar: jovem deixa dois filhos após complicações pós-cirúrgicas

A família de Larissa Rodrigues da Silva, uma jovem de 28 anos natural de Aparecida, no interior de São Paulo, vive um luto profundo após sua morte ocorrer poucos dias depois de uma cirurgia plástica na clínica Dr. Plástica, localizada na região da Bela Vista, no centro da capital paulista.

Larissa era descrita por seus familiares como uma mulher "incrível, dócil e carinhosa", mãe dedicada de dois filhos pequenos - Augusto e Henrique, de 5 e 8 anos. Dona de um salão de beleza, ela havia conquistado a confiança de uma clientela fiel através de seu trabalho.

Segundo relatos da prima Priscila Cristina da Silva, a jovem vendera seu carro e pegara dinheiro emprestado de uma amiga para realizar o sonho de fazer uma abdominoplastia. Um investimento que terminou em tragédia.

Cirurgia fatal e omissão da clínica

Em agosto do ano passado, Larissa pagou R$ 12 mil para realizar uma cirurgia no abdômen e retirar uma hérnia umbilical. Na época, o responsável pela clínica, Herbert Gauss Júnior, ainda possuía autorização para exercer a medicina.

Porém, quando a jovem compareceu ao hospital em janeiro deste ano para o procedimento, descobriu que não seria atendida por Gauss. "A Larissa me contou que quem fez a cirurgia foi a Maria Lúcia e a filha dela", revelou Priscila, referindo-se à esposa de Herbert e sua filha.

Os 15 dias seguintes à operação foram marcados por dores intensas e insuportáveis que nem mesmo medicamentos fortes como o Tramal conseguiam aliviar. A família afirma que a clínica negou atendimento imediato à jovem, orientando-a a retornar apenas quatro dias depois.

O desfecho trágico ocorreu quando Larissa sofreu uma parada cardíaca. O atestado de óbito apontou como causa da morte complicações no pós-operatório de dermolipectomia - o procedimento cirúrgico que ela havia realizado.

Histórico de irregularidades e outras vítimas

Investigado pela Polícia Civil desde setembro por exercício ilegal da profissão, Herbert Gauss Júnior teve seu registro médico cassado em novembro do ano passado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).

A situação se complica ainda mais com a revelação de que Maria Lúcia Fontoura Gauss, esposa de Herbert, não possui especialização em cirurgia plástica registrada nem no Cremesp nem na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

O caso de Larissa não é isolado. O programa SP2 já havia mostrado na quinta-feira (6) outras pacientes que registraram queixas contra a mesma clínica. Pelo menos 12 mulheres já formalizaram denúncias na delegacia.

Camila Ferreira Rocha, técnica em enfermagem, conta ter gasto R$ 17 mil para fazer três cirurgias, mas realizou apenas uma. "Os relatos são bem tristes. Tem meninas que só choram, é muito triste o que ele fez", desabafa.

Outra vítima, uma promotora de eventos, investiu aproximadamente R$ 18 mil em quatro procedimentos e, insatisfeita com o resultado, foi orientada a desembolsar mais R$ 3,5 mil para refazer parte da cirurgia - que nunca foi realizada.

Defesa da clínica e respostas das autoridades

Em nota, a direção da clínica Dr. Plástica afirmou que "sente profundamente" a morte de Larissa, mas alega que "em nenhum momento foi procurada para prestar esclarecimentos" e que "não teve acesso ao laudo médico".

A defesa de Herbert Gauss Júnior declarou que, após a cassação da licença médica, ele "se manteve trabalhando apenas na área administrativa da clínica". Contudo, documentos mostram que em abril deste ano - cinco meses após ter seu registro cassado - ele ainda assinava e carimbava pedidos de exames de pacientes.

A Prefeitura de São Paulo confirmou que o hospital onde algumas cirurgias foram realizadas não possui licença de funcionamento. O endereço na Rua Cincinato Braga opera irregularmente.

O Cremesp reforça a importância de pacientes verificarem previamente o registro do médico e sua filiação às sociedades reconhecidas das especialidades antes de realizar qualquer procedimento estético ou dermatológico.

A família de Larissa registrou boletim de ocorrência e busca justiça. Uma vida interrompida precocemente, dois filhos que crescerão sem a mãe e um alerta sobre os riscos de clínicas que operam na ilegalidade.