
O Rio de Janeiro vive um cenário de quase total impunidade quando o assunto é homicídio. É o que revela um levantamento recente do Instituto Sou da Paz, que jogou luz sobre uma realidade que muitos cariocas já sentem na pele: a esmagadora maioria dos assassinatos simplesmente não é esclarecida.
Pare pra pensar nisso por um segundo. A cada quatro pessoas mortas violentamente na capital fluminense, três viram apenas números. Três famílias não recebem respostas. Três casos viram poeira nos arquivos policiais. Os números são tão baixos que chegam a ser constrangedores — apenas 25,2% dos homicídios dolosos (aqueles com intenção de matar) foram resolvidos entre 2021 e 2023.
Os Números que Não Mentem
O estudo analisou dados oficiais e chegou a conclusões que deveriam causar vergonha em qualquer gestor público. Enquanto São Paulo consegue esclarecer 74,5% desses crimes — um número que, convenhamos, ainda está longe do ideal — o Rio patina na casa dos 25%. É como se a máquina pública tivesse simplesmente desistido de funcionar quando o assunto é investigar mortes violentas.
E olha que a situação é ainda pior quando mergulhamos nos detalhes. Os homicídios culposos (sem intenção de matar) têm índice de elucidação maior, chegando a 45,5%. Mas isso só mostra o óbvio: quando não há intenção clara de matar, as investigações andam melhor. Agora, quando alguém realmente quer tirar uma vida no Rio... bem, as chances de sair impune são enormes.
Por Que Tanta Impunidade?
Vamos ser francos: os motivos são vários, e nenhum é simples. A falta de investimento nas polícias civil e militar é apenas a ponta do iceberg. A sobrecarga de trabalho, a falta de estrutura básica, a escassez de peritos... tudo isso contribui para esse cenário desolador.
Mas tem mais. Muito mais. O medo de testemunhas em depor, a complexidade das investigações, a burocracia que engole processos — é um verdadeiro labirinto onde a verdade frequentemente se perde. E no meio disso tudo, quem paga o preço são as vítimas e suas famílias, que ficam sem justiça, sem respostas, sem paz.
Comparações que Doem
Quando colocamos o Rio ao lado de outras unidades da federação, a situação fica ainda mais gritante. Enquanto aqui mal conseguimos esclarecer um quarto dos assassinatos, estados como Paraná (65,8%) e Minas Gerais (56,2%) mostram que é possível fazer melhor. Muito melhor.
E não adianta culpar apenas a violência urbana. São Paulo, que também enfrenta desafios enormes de segurança pública, consegue taxas quase três vezes maiores que as nossas. A pergunta que fica é: onde estamos errando? Ou melhor: estamos mesmo tentando acertar?
A verdade — dura, crua, inegável — é que esses números revelam muito mais do que estatísticas policiais. Eles mostram o retrato de uma sociedade onde a vida vale pouco, onde a justiça é seletiva, onde a impunidade virou regra. E enquanto não encararmos esse problema de frente, continuaremos contando corpos sem respostas, famílias sem paz, e uma cidade que merece muito mais do que isso.