
Uma noite comum em Montes Claros se transformou em pesadelo. Os sons que cortaram o silêncio da madrugada desta terça-feira (8) ainda ecoam na memória dos moradores - gritos desesperados de socorro, seguidos por um silêncio sinistro.
Quando a fumaça começou a subir, já era tarde demais. Dois corpos carbonizados, completamente irreconhecíveis, foram encontrados em um terreno baldio no bairro Independência. A cena era tão brutal que até os policiais mais experientes ficaram impactados.
O que se sabe até agora
A perícia trabalha contra o tempo - e contra as limitações. Os corpos estão num estado tão avançado de carbonização que a identificação vai exigir exames de DNA. Nem sexo, nem idade, nada. Zero. É como tentar decifrar um quebra-cabeça onde faltam todas as peças.
Os bombeiros chegaram por volta das 3h30 da madrugada, mas as chamas já haviam consumido quase tudo. O fogo, segundo testemunhas, começou pouco depois dos gritos. Coincidência? Difícil acreditar.
As pistas que restaram
A polícia está colhendo depoimentos de moradores da região. Alguns juraram ter ouvido vozes alteradas antes dos gritos, outros mencionaram barulho de carros em alta velocidade. Pequenos detalhes que podem ser cruciais - ou podem ser nada.
No local, os peritos buscam qualquer evidência que tenha sobrevivido às chamas. Um trabalho minucioso, quase arqueológico, catando fragmentos de verdade em meio às cinzas.
O delegado Marcelo Rocha, que comanda as investigações, foi cauteloso nas declarações: "Estamos considerando todas as hipóteses, mas a natureza dos fatos aponta para homicídio seguido de ocultação de cadáver". Em outras palavras: alguém matou e tentou fazer os corpos desaparecerem nas chamas.
Uma comunidade em choque
O que mais me impressiona, francamente, é o silêncio que se instalou no bairro. As pessoas estão com medo - e quem pode culpá-las? Quando a violência chega tão perto, de forma tão brutal, o instinto é se trancar e rezar.
Moradores evitam sair à noite, conversam em voz baixa, olham com desconfiança para carros desconhecidos. O trauma é palpável, quase dá para tocar.
Enquanto isso, as famílias de desaparecidos começam a surgir na delegacia. Mães, pais, irmãos - cada um carregando uma foto e uma esperança agonizante de que seus entes queridos não sejam aqueles corpos carbonizados.
Uma tragédia dentro da tragédia, se me permitem o clichê. Mas às vezes os clichês são a única forma de descrever a dor.