
Ela mal conseguia lembrar o próprio nome há algumas semanas. Agora, aos poucos, como quem encontra fragmentos de um quebra-cabeça perdido, a médica agredida por um fisiculturista em Santos começa a recuperar flashes de memória. Não é um processo linear — alguns dias são melhores que outros — mas, segundo o neurologista que acompanha o caso, cada pequeno avanço é uma vitória.
O caso, que chocou a região, aconteceu em um daqueles dias comuns que viram pesadelo num piscar de olhos. O agressor, um homem musculoso que mais parecia saído de um filme de ação, desferiu golpes que deixaram sequelas físicas e mentais. A vítima, uma profissional da saúde respeitada, teve que reaprender até coisas básicas, como segurar um garfo.
O que diz a ciência sobre a recuperação
"Quando falamos de memória pós-trauma, é como se estivéssemos lidando com um arquivo danificado", explica o Dr. Renato Mendes, neurologista que acompanha o caso. "Às vezes recuperamos arquivos inteiros, outras vezes só pedaços, e em muitos casos há setores que simplesmente desaparecem."
O especialista — que já viu casos parecidos em suas duas décadas de profissão — faz uma analogia curiosa: a memória da médica está se comportando como um celular com bateria ruim. Alguns "aplicativos" (memórias) abrem facilmente, outros fecham sem aviso, e há os que simplesmente travam.
- Primeiro mês: Não reconhecia familiares
- Sexta semana: Lembrou onde guardava as chaves de casa
- Ontem: Reconheceu a enfermeira que a atende
Não é milagre — é ciência misturada com a incrível capacidade de resiliência do cérebro humano. Mas ainda há um longo caminho pela frente. O fisiculturista, que está preso, sequer demonstrou arrependimento durante os interrogatórios. "Foi só uma discussão que escapou do controle", disse ele, como se estivesse falando de um treino pesado na academia.
O que esperar daqui para frente
Segundo o médico, a recuperação total da memória é improvável — mas não impossível. O cérebro dela está criando novos caminhos neuronais, contornando as áreas danificadas como um rio que muda de curso após um deslizamento. Algumas memórias podem voltar de forma espontânea; outras, com ajuda de terapias específicas.
Enquanto isso, a família se agarra a cada pequeno progresso como se fosse ouro. "Quando ela me chamou pelo nome na semana passada, chorei como uma criança", conta a irmã mais velha, que praticamente virou sombra da médica durante todo o processo de recuperação.
O caso levantou discussões sobre violência contra mulheres e a necessidade de punições mais severas — especialmente quando o agressor tem vantagem física evidente. Mas essa é outra história, que a vítima, aos poucos, começa a conseguir contar com suas próprias palavras.