Marido de influenciadora sobrevive 12h na mata em região de conflitos agrários em RO
Conflitos agrários em RO: marido de influenciadora atacado

Região de conflitos agrários em Rondônia é palco de novo ataque

João Martins, marido da influenciadora digital Thais Reolon, sobreviveu a uma experiência traumática ao passar aproximadamente 12 horas escondido na mata após ser baleado na região rural de Porto Velho, Rondônia. O episódio ocorreu em uma área historicamente marcada por conflitos no campo e violência rural.

Histórico de violência na região Galo Velho

A região conhecida como Galo Velho, onde ocorreu o ataque contra João Martins, possui um longo histórico de violência. Em março de 2025, a área foi cenário de uma chacina que resultou em seis mortes no acampamento Tiago dos Santos, zona rural de Porto Velho.

As vítimas da chacina foram identificadas como: Patricia Krostrycki, Lorraine Krostrycki da Silva, Thiago Krostrycki, Luan Krostrycki, Rafael Garcia de Oliveira e Júlio César Nunes Aparecido. Quatro delas pertenciam à mesma família, segundo informações da Polícia Militar.

As equipes do Batalhão de Fronteira e Divisas (BPFRON) foram acionadas por volta das 11h e encontraram todas as vítimas mortas a tiros. A motivação do crime continua sob investigação.

Antecedentes criminais na mesma área

O distrito de Nova Mutum Paraná, onde está localizada a Fazenda Norbrasil, já foi palco de outros crimes graves. Em 2020, dois policiais foram assassinados em circunstâncias violentas.

O tenente da reserva José Figueiredo Sobrinho foi morto com aproximadamente dez tiros após ser abordado por um grupo armado dentro de uma fazenda. No dia seguinte, o sargento Márcio Rodrigues da Silva foi assassinado enquanto investigava o caso anterior.

Especialista explica contexto dos conflitos agrários

O especialista em Direito Agrário Josep Iborra Plans explicou ao g1 que a violência no campo cresce junto com o avanço da fronteira agrícola sobre a floresta. A região conhecida como Amacro — que reúne o leste do Acre, o sul do Amazonas e o norte de Rondônia — concentra atualmente a maior parte dos conflitos agrários do estado.

Segundo Plans, a violência envolve diferentes grupos: fazendeiros, produtores de soja, madeireiros, garimpeiros e até especuladores imobiliários.

"Tradicionalmente, o maior número de assassinatos envolve trabalhadores sem-terra. Mas, nos últimos anos, as ocupações diminuíram; o que cresce é a violência praticada por grupos econômicos que disputam território", afirmou o especialista.

Dados nacionais sobre violência no campo

O Relatório Conflitos no Campo Brasil 2024, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), mostra uma mudança no perfil da violência rural no país. Entre 2023 e 2024, o número de assassinatos no campo caiu de 31 para 13 em todo o Brasil.

Entretanto, outras formas de violência como ameaças, intimidações e ataques armados aumentaram significativamente. Em Rondônia, segundo o documento, a violência permanece intensa e atinge diversas comunidades, incluindo indígenas, ribeirinhos, posseiros e pequenos agricultores.

João Martins é sobrinho de Antônio Martins, conhecido como "Galo Velho", proprietário da área onde ocorreu o ataque. O caso evidencia a continua tensão em regiões de conflito agrário no norte do país, mesmo com a redução nos números de assassinatos.