O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) deixou o Brasil de forma ilegal para escapar da prisão após ser condenado por participar da tentativa de golpe de Estado. Seu destino foram os Estados Unidos, onde o ex-presidente Donald Trump oferece abrigo, seguindo o mesmo caminho de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), também acusado de crimes contra a soberania nacional.
O escândalo do FirstMile e a Abin Paralela
Enquanto ocupava o cargo de diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ramagem utilizou o software FirstMile para monitorar ilegalmente adversários políticos, incluindo jornalistas e professores universitários. As investigações revelaram que ele desviou recursos públicos da agência, tanto tecnológicos quanto financeiros, para beneficiar interesses político-partidários e produzir dossiês contra opositores.
Em janeiro de 2024, a Polícia Federal executou a Operação Vigilância Aproximada, realizando buscas em endereços ligados ao deputado. Durante a ação, foram apreendidos:
- Seis celulares
- Quatro notebooks
- 20 pen drives
- Diversos documentos
Dois equipamentos pertenciam formalmente à Abin e não haviam sido devolvidos por Ramagem. O relatório da PF ainda destacou tentativas de destruir evidências, com a formatação em massa de computadores e eliminação de registros de impressão para garantir a "irrastreabilidade" das ações.
Fuga organizada e riscos à segurança nacional
Ramagem afirmou em entrevista ao podcast Timeline que está nos Estados Unidos com a anuência do governo americano. "Eu estou seguro aqui com a anuência e o conhecimento do governo americano", declarou o deputado, que agora é oficialmente considerado foragido da Justiça brasileira.
O ministro do Supremo Tribunal Federal determinou nesta terça-feira (25) o cumprimento imediato de sua pena. A situação preocupa autoridades brasileiras, pois como diretor da Abin, Ramagem teve acesso a informações sensíveis sobre segurança e defesa nacional, trabalhando diretamente com instituições militares.
Uma fonte da Abin entrevistada pelo jornalista Otávio Guedes alertou sobre os riscos: "Como diretor da Abin, [Ramagem] teve acesso liberado a todas as investigações e informações. Quem vai negar uma informação para o DG, ainda mais alguém que não entende os protocolos de compartimento das informações?".
Padrão de conduta e caso paralelo
Este não é o primeiro caso de autoridades brasileiras seguindo para os Estados Unidos após saírem do governo. O ex-juiz e atual senador Sergio Moro foi contratado pela consultoria americana Alvarez & Marsal após deixar o Ministério da Justiça. A empresa atuava na recuperação judicial de empresas atingidas pela Lava Jato, como a Odebrecht, que foram julgadas pelo próprio Moro durante a operação.
Moro recebeu US$ 656 mil (cerca de R$ 3,537 milhões) em 12 meses de trabalho na consultoria, levantando questões sobre conflito de interesses. Agora, com a fuga de Ramagem para o mesmo destino, especialistas alertam para os riscos à soberania nacional e à segurança das informações de Estado brasileiras.