Morte de Odete Roitman: Como uma Tragédia Familiar se Transformou em Peça de Marketing para o Governo de Goiás
Morte de Odete Roitman vira marketing do governo Goiás

Parece que nada escapa ao marketing político nos dias de hoje. Nem mesmo a morte. A trágica partida de Odete Roitman, aquela empresária de 85 anos que todo mundo conhecia pela força e independência, virou material de campanha do governo goiano. E olha que a história é mais complexa do que parece à primeira vista.

O acidente aconteceu num daqueles dias comuns que viram extraordinários. Odete, sempre ativa, escorregou no banheiro da própria casa. A queda foi fatal. Mas o que aconteceu depois é que deixou muita gente com a pulga atrás da orelha.

Do luto à propaganda

Antes que a família pudesse sequer digerir a dor, eis que a tragédia pessoal ganhava contornos públicos. O governo do estado resolveu transformar o infortúnio doméstico em peça de campanha sobre... adivinhem? Prevenção de acidentes caseiros.

Não me entenda mal — a causa é nobre, sem dúvida. Mas a timing, ah, a timing é tudo nessa vida. E usar uma morte ainda quente como isca para promoção institucional? Bem, isso já é outro papo completamente diferente.

Os números que não fecham

Aqui vem a parte que realmente faz pensar. A campanha governamental fala em números impressionantes: 90% dos acidentes com idosos acontecem dentro de casa. Dados reais? Talvez. Mas convenhamos — usar estatísticas genéricas para justificar a apropriação de uma tragédia específica soa, no mínimo, oportunista.

E não para por aí. O material publicitário menciona que quedas são a principal causa de morte acidental entre pessoas com mais de 65 anos. Verdade? Sim. Mas será que precisava ser às custas da dor alheia?

A família entre a dor e a política

Imagina só a situação: você perde alguém querido de maneira abrupta e, antes mesmo de conseguir processar o luto, vê o nome da pessoa estampado em campanhas governamentais. É de cortar o coração.

Os familiares de Odete — coitados — ficaram num daqueles dilemas morais impossíveis. De um lado, a possibilidade de que a morte dela pudesse servir para prevenir outras tragédias. Do outro, a sensação desconfortável de ver uma perda íntima transformada em capital político.

E sabe qual é a pior parte? O silêncio. Ninguém da família quis se manifestar publicamente. Quem pode culpá-los? Entre a espada da exposição indesejada e a parede do possível benefício coletivo, o melhor mesmo é muitas vezes calar.

O marketing da sensibilidade seletiva

O que mais me intriga nessa história toda é a escolha do timing. O governo poderia muito bem ter lançado uma campanha genérica sobre segurança doméstica sem vincular a uma morte específica e recente. Mas não — resolveram ir pelo caminho mais sensacionalista.

É aquela velha história: quando a emoção vende, a ética às vezes sai pela porta dos fundos. E no jogo político, onde a imagem é tudo, até as tragédias mais pessoais podem se tornar moeda de troca.

Não estou dizendo que não se deva falar sobre prevenção de acidentes domésticos. Muito pelo contrário — é um tema importantíssimo que merece toda a atenção. Mas a forma, caramba, a forma faz toda a diferença.

O que fica dessa história?

No final das contas, a história de Odete Roitman nos deixa com mais perguntas do que respostas. Até onde pode ir o marketing governamental? Onde termina o interesse público e começa o aproveitamento político?

Uma coisa é certa: a linha entre conscientização e exploração é mais tênue do que gostaríamos de admitir. E nesse caso específico, muitos acham que o governo de Goiás pisou feio na bola.

Odete merecia ser lembrada pela vida que viveu — não pela morte que virou material de campanha. Mas parece que, no mundo da política, até as memórias mais sagradas podem ser cooptadas pela máquina publicitária.

Que fique o alerta: nem tudo que se vende como "conscientização" é necessariamente ético. E às vezes, as melhores intenções escondem os piores oportunismos.