Funcionária pública é presa por desviar armamento de delegacia
Uma servidora pública foi presa suspeita de desviar mais de 220 armas que estavam sob custódia da Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, em Belo Horizonte. As investigações apontam que parte do armamento desaparecido foi vendido para facções criminosas, incluindo o Terceiro Comando Puro (TCP) e outras organizações da capital mineira e região metropolitana.
Como o esquema foi descoberto
O desvio veio à tona após uma das armas, que já tinha registro de apreensão, ser novamente confiscada em outra operação policial. Isso acionou o alerta nas investigações e revelou uma falha grave no sistema de custódia de materiais apreendidos.
As 220 armas sob responsabilidade da unidade policial haviam sido apreendidas em operações anteriores e deveriam estar em local seguro. Segundo a Polícia Civil, as armas desviadas são de baixo calibre e muitas delas consideradas obsoletas.
Servidora envolvida e reação institucional
A mulher presa, Vanessa de Lima Figueiredo, de 44 anos, é concursada da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag) e havia sido cedida para trabalhar na delegacia. Ela foi presa em casa no domingo, dia 9 de junho.
O Sindicato dos Servidores da Polícia Civil de Minas Gerais (Sindpol-MG) emitiu um alerta sobre a infiltração do crime organizado e a vulnerabilidade das estruturas de custódia. Wemerson Oliveira, presidente do Sindpol-MG, afirmou: "A grande preocupação nossa é que isso tenha voltado para a mão de organizações criminosas, sim, e que organizações criminosas estejam aliciando servidores internamente. Então isso é um problema gravíssimo".
A Polícia Civil informou que "objetos apreendidos como mídias e documentos serão encaminhados para análise pela perícia técnica" e que "foi instaurado procedimento de correição administrativa para apuração de todas as irregularidades constatadas", conforme declarou Aloísio Daniel Fagundes, chefe da Assessoria de Comunicação da corporação.
Contexto das facções e defesa da servidora
O TCP é uma facção criminosa que surgiu no Rio de Janeiro como uma dissidência do Comando Vermelho, após disputas internas. Em Belo Horizonte, a organização tem forte atuação na Cabana do Pai Tomás, comunidade vizinha à delegacia onde os furtos aconteceram.
A defesa da servidora alega que a medida cautelar de prisão foi desproporcional. O advogado Lucas Furtado afirmou em entrevista à TV Globo que "nada de ilícito foi encontrado durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão" e que "a defesa vai pleitear a liberdade provisória da Vanessa".
Sobre as imagens de vigilância, o advogado sustentou que os vídeos "não mostram nenhum armamento com a servidora" e que "não foram identificadas armas durante essa movimentação, tão somente a bolsa dela".
Especialistas apontam falhas sistêmicas
Para especialistas, o caso evidencia falhas na política de destinação de armas apreendidas no país. Segundo a professora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp/UFMG), a permanência prolongada de armas em depósitos aumenta o risco de desvio.
"Em teoria, essas armas, depois de periciadas e feitos todos os exames necessários para o andamento dos processos penais, podem ser destinadas às polícias ou destruídas. A gente enfatiza que é importante que essas armas sejam destruídas, para que não fiquem sob guarda em depósitos inseguros e voltem para as dinâmicas criminais. Mas isso é bem raro de acontecer", explicou a especialista.
A Polícia Civil continua investigando o destino das armas desviadas e a possível participação de outros servidores no esquema, enquanto mantém a correição interna para apurar todas as irregularidades.