O Primeiro Comando da Capital (PCC) mantinha uma rede estruturada de pontos de venda de drogas no estado de Roraima, operando como um verdadeiro varejo ilegal com nomes fantasiosos, metas de vendas e auditorias internas. A informação é fruto de investigação do Ministério Público de Roraima (MPRR), que denunciou 17 integrantes da facção pela gestão desses locais.
Estrutura empresarial do crime
De acordo com as investigações, os pontos de tráfico, chamados internamente de "lojinhas", funcionavam com uma lógica empresarial. Havia uma divisão rígida de lucros, metas a cumprir e auditorias periódicas para verificar as atividades. Em apenas quatro meses, essa rede criminosa movimentou a quantia de R$ 414 mil, valor apurado pelas autoridades.
A Operação Sucursal, da Polícia Federal, resultou na prisão de 17 pessoas consideradas chefes e gerentes dessa operação. A investigação começou a ganhar corpo após a prisão, em maio, de Rodrigo Alberto Xavier, o "Sorriso Maroto", de 37 anos. Ele havia sido enviado de São Paulo especificamente para reorganizar as atividades da facção em território roraimense.
Nomes fantasiosos e a 'loja' de maior lucro
Para facilitar a comunicação e dificultar a identificação pelas forças de segurança, cada ponto de venda recebeu um apelido. A lista completa e os valores de arrecadação levantados pela investigação são:
- Rosinha — R$ 36 mil
- Cemitério – R$ 32,4 mil
- Tem de Tudo – R$ 30,5 mil
- Império – R$ 28,2 mil
- Hello Kitty – R$ 27 mil
- Esperança – R$ 23,1 mil
- Las Vegas – R$ 13,2 mil
- Raimundo – R$ 10,1 mil
- Bad Boy – R$ 9,6 mil
- Casarão – R$ 8,2 mil
- Ponta do Verde – R$ 6,4 mil
- Vera Cruz – R$ 5,6 mil
- Casa da Moeda – R$ 4,4 mil
- Sem Alma – R$ 2,9 mil
A unidade de maior faturamento, a "Rosinha", era comandada por Cilara Rodrigues de Souza, conhecida como 'Kauany', de 33 anos. Ela é apontada como a principal liderança feminina do PCC no estado e é namorada de "Sorriso Maroto", o chefe enviado de São Paulo.
Códigos, hierarquia e divisão de lucros
As provas contra a organização foram colhidas a partir da análise de celulares apreendidos. Nos aparelhos, os investigadores encontraram vídeos de auditoria, listas de arrecadação e registros detalhados de prestação de contas. Os gerentes eram responsáveis por manter o fluxo de vendas, controlar pequenos estoques e enviar comprovações em vídeo das atividades, mostrando drogas, balanças e dinheiro.
O esquema estava subordinado ao setor nacional da facção chamado "FM – Progresso". Para burlar escutas, as drogas eram identificadas por codinomes nas comunicações:
- CLARO – pasta base de cocaína
- PEIXE – cocaína
- VIVO – maconha prensada
- OI – skunk (um tipo de maconha)
O Ministério Público detalhou ainda a divisão dos ganhos. Entre 25% e 30% do lucro ficava com os gerentes locais. O restante, a maior parte, era enviado para as lideranças da facção sediadas em São Paulo, evidenciando o caráter interestadual e altamente organizado do crime.
A prisão de "Sorriso Maroto" foi considerada o ponto de partida para a maior operação já realizada pela Polícia Civil de Roraima contra facções criminosas, desmantelando uma parte significativa da estrutura logística e financeira do PCC no estado.