A principal liderança feminina do Primeiro Comando da Capital (PCC) no estado de Roraima, Cilara Rodrigues de Souza, de 33 anos, conhecida pelos apelidos de "Kauany", "Kakau" e "Isa Maroto", foi denunciada pelo Ministério Público estadual. Ela é acusada de comandar a organização criminosa e o tráfico de drogas.
Hierarquia e a 'loja' de maior lucro
De acordo com as investigações, Cilara Rodrigues ocupava o posto de "Geral do Estado da Feminina", uma posição considerada de alta hierarquia dentro da facção. Ela era responsável por comandar a "loja" de drogas batizada de "Rosinha", que, segundo o MP, teve uma das maiores arrecadações da facção no estado, com movimentação financeira de R$ 36 mil. O período exato dessa movimentação não foi divulgado pela apuração.
Cilara mantinha um relacionamento com Rodrigo Alberto Xavier, o "Sorriso Maroto", apontado como o chefe do PCC em Roraima. Ambos foram presos em operações da Polícia Federal e da Polícia Civil. Sorriso Maroto teria sido enviado de São Paulo com a missão de reestruturar a facção no estado, e sua prisão foi o ponto de partida para uma grande operação contra o crime organizado local.
Operação Sucursal e a estrutura do tráfico
A prisão de Cilara Rodrigues ocorreu no dia 2 de outubro deste ano, durante a Operação Sucursal da Polícia Federal. Na mesma ação, outros 16 chefes e gerentes do PCC no estado foram detidos. A denúncia, assinada pelo promotor Carlos Alberto Melotto e entregue à Vara de Tóxicos de Boa Vista, acusa os 17 indivíduos de integrar e comandar organização criminosa, além de tráfico de drogas.
A investigação revelou uma célula estruturada do PCC em Roraima, ligada a um setor nacional chamado "FM – Progresso". Os denunciados atuavam em um sistema semelhante ao varejo, onde cada ponto de venda de drogas, chamado de "lojinha", possuía um nome específico. A análise de dados de celulares apreendidos foi crucial para desvendar a cadeia hierárquica. Em um dos casos, um suspeito foi preso com 14 aparelhos que seriam distribuídos aos gerentes do tráfico.
Métodos e códigos utilizados pela facção
O modus operandi envolvia divisão rigorosa de tarefas, disciplina e o uso de códigos para identificar os entorpecentes. As drogas eram referenciadas nas comunicações como:
- "CLARO": pasta base de cocaína
- "PEIXE": cocaína
- "VIVO": maconha prensada
- "OI": skunk (maconha de maior potência)
Os gerentes gravavam vídeos de auditoria, exibindo as drogas em estoque, balanças de precisão e os valores arrecadados, que eram enviados aos superiores para prestação de contas. Conforme a denúncia, cerca de 25% a 30% dos lucros ficavam com os gerentes locais, enquanto o restante era enviado para a cúpula da facção em São Paulo.
Lista de 'lojinhas' e valores arrecadados
Com base nos vídeos apreendidos, o MP identificou a arrecadação parcial de diversas bocas de fumo. Além da "Rosinha", comandada por Kauany, outras lojas e seus respectivos valores movimentados foram citados na denúncia:
- Cemitério – R$ 32,4 mil
- Tem de Tudo – R$ 30,5 mil
- Império – R$ 28,2 mil
- Hello Kit – R$ 27 mil
- Esperança – R$ 23,1 mil
- Las Vegas – R$ 13,2 mil
- Raimundo – R$ 10,1 mil
- Bad Boy – R$ 9,6 mil
- Casarão – R$ 8,2 mil
- Ponta do Verde – R$ 6,4 mil
- Vera Cruz – R$ 5,6 mil
- Casa da Moeda – R$ 4,4 mil
- Sem Alma – R$ 2,9 mil
O Ministério Público ressalta que os valores representam apenas uma fração da movimentação total, já que os vídeos apreendidos cobrem um período limitado. A investigação marcou um duro golpe na estrutura financeira e operacional do PCC em Roraima, uma facção que nasceu nas prisões paulistas nos anos 1990 e hoje é considerada a maior organização criminosa do Brasil, com atuação internacional.