Justiça liberta irmãos presos com livro sobre PCC e Comando Vermelho no litoral paulista
Irmãos presos com livro sobre PCC são soltos

Parece coisa de filme, mas aconteceu de verdade aqui no litoral paulista. Dois irmãos, cujos nomes vou omitir por questões óbvias, tiveram uma semana bastante conturbada — presos numa terça-feira e soltos na quarta. Tudo por causa de um livro. Mas não era qualquer livro, entende?

O que aconteceu basicamente foi o seguinte: a Polícia Civil, durante uma operação de rotina, encontrou com os dois irmãos uma publicação que, digamos, não era exatamente uma leitura leve para o final de semana. Estamos falando de um material que detalhava — e com certa profundidade, pelo que soube — as operações e a estrutura de duas das facções mais temidas do país: o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho.

O que diz a lei

Agora vem a parte que muita gente não entende. A defesa deles argumentou, com certa razão, que simplesmente ter um livro não configura crime. Até onde sei, não estamos na era da inquisição onde queimar livros era prática comum. O artigo 287 do Código Penal, que trata de apologia ao crime, exige mais do que a mera posse de um material.

Precisa ter intenção de incentivar outras pessoas a cometerem crimes, algo que — pelo menos até onde a investigação mostrou — não era o caso dos irmãos. Eles estavam lendo, não recrutando.

A decisão judicial

O juiz Carlos Eduardo Pinto Ferreira, da 1ª Vara Criminal de Santos, analisou o caso e basicamente deu um puxão de orelha na acusação. Na sua decisão, ele deixou claro que a mera posse do livro não configurava suficiente para mantê-los presos. "Não restou demonstrado o dolo específico", escreveu ele. Em português claro: não provaram que os caras tinham más intenções.

E tem mais — o próprio Ministério Público, que normalmente pede a prisão, desta vez reconheceu que a situação não justificava manter os dois atrás das grades. Quando até o MP recua, você sabe que a coisa estava meio forçada.

O que tinha no livro?

Bom, aqui é onde fica interessante. A publicação não era nenhum segredo — está disponível por aí, inclusive online. Mas o conteúdo... bem, o conteúdo é bem específico. Fala sobre a história dessas organizações, seus métodos, como funcionam. É o tipo de leitura que chama atenção, com certeza.

Mas pense comigo: será que todo mundo que lê sobre Hitler é nazista? Todo mundo que estuda a máfia quer ser mafioso? A questão é mais complexa do que parece.

O contexto importa

O que me deixa pensando é o seguinte: num país com tantos problemas reais de segurança pública, será que prender pessoas por terem livros é o melhor uso dos recursos policiais? Não estou defendendo ninguém, mas questionando a prioridade.

Os irmãos foram liberados, mas o caso deixa um gosto amargo. Até que ponto podemos criminalizar o conhecimento? Mesmo que seja conhecimento sobre coisas ruins?

O caso segue em investigação, mas a prisão foi revertida. E agora, como fica a vida desses dois? Imagino que voltar à normalidade depois de uma experiência dessas não deve ser nada fácil.

Uma coisa é certa: o debate sobre até onde vai a liberdade de informação e onde começa o crime continua mais atual do que nunca. E esse caso na Baixada Santista é só mais um capítulo nessa longa discussão.