
Parece coisa de filme, mas é a pura e crua realidade que está batendo à porta – ou melhor, ao celular – de muita gente no interior da Bahia. Uma trama sinistra, urdida por criminosos que se passam por integrantes de facções, está deixando um rastro de medo e prejuízo. E o pior? Eles não estão atrás de um confronto direto, mas de algo muito mais valioso: o seu dinheiro.
A artimanha é desconcertantemente simples, o que talvez explique sua eficácia cruel. Tudo começa com uma ligação gelada. Do outro da linha, uma voz grave, carregada de uma autoridade fictícia, se identifica como um "mandante" de uma organização criminosa. O tom é de intimidação pura, sem rodeios.
O Roteiro do Terror Psicológico
O discurso é ensaiado, mas soa horrivelmente convincente. O golpista alega que a pessoa – sim, você mesmo – deve uma quantia exorbitante, que varia entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. A justificativa? Absurda. Dizem que um familiar da vítima cometeu um suposto deslize, como roubar uma carga de drogas ou não repassar valores de outro golpe. É uma ficção criminosa montada para criar um pânico imediato e irracional.
E aí vem a pressão, uma torquês mental que não dá trégua. Eles exigem o pagamento imediato, é claro, via PIX. E não se cansam de ameaçar: falam em consequências brutais, em violência extrema contra a vítima e sua família se o valor não for enviado na hora. É um sequestro psicológico feito por telefone.
O Alvo Preferencial: Quem Está Caino Nessa?
Aqui está um detalhe que assusta ainda mais. Os criminosos não estão atirando para todos os lados. Eles têm feito um trabalho de inteligência, por mais perverso que seja. As vítimas, em sua maioria, são pessoas que já caíram em outros tipos de golpe recentemente. Como assim? Sim, a máfia possui acesso a listas de dados vazadas ou comercializadas por outros bandidos. Eles sabem quem já foi enganado antes, quem já está emocionalmente fragilizado e, portanto, mais propenso a entrar em pânico com uma nova ameaça. É uma crueldade com camadas.
As cidades de Feira de Santana, Serrinha e Jacobina já aparecem no radar das ocorrências. A Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos (DRCC) da capital já está com as antenas ligadas, investigando dezenas de casos.
Como Não Ser a Próxima Vítima
- Respire Fundo e Desligue: A primeira e mais vital reação é não se deixar levar pelo pânico. Lembre-se: facções de verdade não anunciam operações por telefone. É sempre um golpe.
- Nunca, Jamais, Transfira Dinheiro: Não faça nenhum PIX, não passe nenhum código, não compre nenhum vale-presente. Nenhuma organização legítima, muito menos uma ilegal, opera assim.
- Corte a Comunação Imediatamente: Assim que perceber a tentativa, basta desligar. Não discuta, não tente argumentar. Bloqueie o número na mesma hora.
- Denuncie Sem Hesitar: Registre imediatamente um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima ou através de canais online. Leve o máximo de detalhes possível: número que ligou, horário, valor pedido, conta PIX fornecida. Esses dados são ouro para as investigações.
O delegado Fábio Assis, que está à frente das apurações, foi categórico: "Essa gangue explora o temor que o crime organizado inspira. Mas é vital que a população entenda: é uma farsa. A melhor arma é a informação e a denúncia".
É um daqueles momentos em que espalhar a notícia não é fofoca, é um ato de proteção coletiva. Converse com seus familiares, avise seus vizinhos, especialmente os mais idosos. No jogo do medo, a solidariedade é o nosso trunfo mais poderoso.