Em uma jogada que mistura o ilegal com o empreendedorismo, o Comando Vermelho, uma das mais temidas facções criminosas do Brasil, tentou oficialmente registrar sua marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A facção, que nasceu nos presídios do Rio de Janeiro na década de 1970, buscou transformar seu nome em negócio legal, abrangendo desde roupas até revistas.
Da Cela para as Lojas: A Estratégia de Mercado do CV
Os pedidos de registro, protocolados entre 2021 e 2023, revelam uma estratégia sofisticada de branding criminoso. A facção tentou garantir os direitos sobre o nome "Comando Vermelho" para diversos segmentos:
- Confecção de roupas, incluindo camisetas e bonés
- Produção de bebidas alcoólicas e não alcoólicas
- Criação de uma revista ou publicação periódica
- Serviços de educação e entretenimento
Esta não é a primeira vez que o grupo tenta legalizar sua marca. Em 2006, um pedido similar foi feito, mas acabou arquivado por falta de pagamento das taxas necessárias.
O Que Está Por Trás da Estratégia?
Especialistas em segurança pública apontam que o movimento vai além de uma simples tentativa de ganhar dinheiro. Registrar a marca significaria um passo importante na legitimação pública da facção, transformando um símbolo de violência em produto de consumo.
"É uma forma de lavar a imagem e ganhar espaço na cultura popular", analisa um pesquisador de segurança. "Quando uma marca se torna comum no dia a dia das pessoas, ela perde parte do estigma criminal".
A Resposta do INPI e as Consequências Legais
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial já se pronunciou sobre o caso, afirmando que não concede registros para marcas que representem organizações criminosas. A legislação brasileira é clara: não é possível registrar sinais que contrariem a moral e os bons costumes.
Além da negativa do INPI, os pedidos podem gerar consequências mais sérias. As informações foram encaminhadas ao Ministério Público Federal, que investiga possíveis crimes de apologia ao crime e associação criminosa.
O Fenômeno das Marcas do Crime no Brasil
O caso do Comando Vermelho não é isolado. Outras facções também tentaram seguir o mesmo caminho, refletindo uma tendência preocupante de mercantilização do poder paralelo. Especialistas alertam que essa estratégia representa uma evolução nas táticas das organizações criminosas, que buscam novos formas de influência e financiamento.
Enquanto isso, nas ruas, produtos piratas com a logo do CV continuam circulando, mostrando que, mesmo sem o registro oficial, a marca já conquistou seu espaço - mesmo que às margens da lei.