
Quinze anos. Parece uma eternidade, não é? Francisco Mairlon de Souza Silva, hoje com 42 anos, sabe exatamente o peso desse tempo. Cada um desses anos ele passou atrás das grades no Complexo da Papuda, condenado por um crime que, segundo o STJ, ele não cometeu.
Naquela sexta-feira, 9 de outubro de 2009, Brasília parou com a notícia do homicídio na 113 Sul. Um crime brutal que tirou a vida de três pessoas – entre elas uma criança de apenas 4 anos. A comoção foi geral, a pressão por respostas também. E Francisco, então com 26 anos, tornou-se o principal suspeito.
O longo caminho até a absolvição
O caso sempre foi cheio de controvérsias, para ser sincero. A defesa sempre alegou que Francisco estava trabalhando como vigilante em um supermercado no momento do crime – e tinha até mesmo o registro de ponto para comprovar. Mas, sabe como é, quando a sociedade clama por justiça, às vezes a pressão fala mais alto.
O julgamento no Tribunal do Júri de Brasília em 2011 foi daqueles que divide opiniões. Condenado a 48 anos, Francisco nunca se conformou. A família tampouco. A irmã dele, Maria Mairlon, virou uma verdadeira guerreira na luta pela revisão do processo.
A virada no STJ
A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, analisando o caso com outros olhos – ou talvez com os olhos que a justiça deveria ter tido desde o início – identificou falhas graves no processo. A defesa não teve acesso a todas as provas, imagine só! E o tal álibi do ponto no trabalho? Foi simplesmente ignorado.
O ministro Joel Ilan Paciornik, relator do caso, foi categórico: "Há robustas controvérsias sobre a materialidade do crime e a autoria". Em português claro: não dava para ter certeza de que foi ele.
Por unanimidade, os ministros decidiram anular a condenação. E determinaram um novo julgamento. Mas Francisco, após 15 anos preso, teve a prisão preventiva revogada. Finalmente.
O dia da liberdade
Na tarde desta terça-feira, 15 de outubro de 2025, os portões da Papuda se abriram. Francisco saiu acompanhado de seus advogados – e, claro, daquela irmã que nunca desistiu dele.
"É uma mistura de alívio e revolta", me contou um dos defensores. "Alívio pela liberdade, mas revolta por todos esses anos perdidos."
Agora começa outra batalha – a de reconstruir uma vida. Aos 42 anos, Francisco precisa aprender a viver de novo. O Brasil mudou, o mundo mudou, e ele perdeu quinze anos vendo a vida passar de dentro de uma cela.
O caso reacende aquela velha discussão: até que ponto a pressão social por respostas rápidas pode levar a injustiças? Quantos outros Franciscos podem estar presos por crimes que não cometeram? Perguntas que, francamente, deveriam nos manter acordados à noite.