Crimes em terreiro de umbanda chocam Belo Horizonte
Um caso grave de abusos sexuais, tortura e violência em um terreiro de umbanda está sendo investigado em Belo Horizonte. O pai de santo Henrique Vorcaro Garcia, de 54 anos, e sua assistente Flávia Miriam Lima foram presos após múltiplas denúncias de vítimas que frequentavam o terreiro Omolokô Ilê Axé Guian, localizado no bairro Santa Efigênia, na Região Leste da capital mineira.
Relatos chocantes de abusos e violência
As vítimas descreveram à polícia cenas de terror e humilhação. "Ele fecha a porta da sala dele, coloca uma música, chama a assistente dele e começa o abuso sexual", contou uma das mulheres que sofreu violências no local. Os rituais de limpeza energética eram usados como pretexto para toques indesejados e até estupros.
Uma jovem de 22 anos revelou ter sido submetida a torturas físicas em fevereiro de 2024. "A gente era obrigado a fazer o descarrego de pólvora, que era um trabalho que custava cerca de R$ 100, a cada dois meses, nós, médiuns da casa, né? E aí foi o momento em que ele começou a jogar o fogo muito próximo de mim. Eles não me deram nenhum tipo de apoio, ajuda", desabafou a vítima, que teve o pé e a perna direita queimados com álcool e fogo.
Outra mulher, de 46 anos, que preferiu não se identificar, explicou como era o processo de manipulação: "A princípio, você acredita nas coisas que ele fala. Ele te convence que aquilo é certo, que aquilo é real, que aquilo é válido. Depois que a gente toma consciência que não havia trabalho espiritual, não havia espiritualidade alguma ali, não havia nada".
Rede de violência e intimidação
Além dos abusos sexuais, as investigações revelaram que Henrique Vorcaro Garcia - que também é policial civil e primo do banqueiro Daniel Vorcaro - praticava humilhações públicas, cobranças financeiras abusivas e ameaças de morte. Testemunhas confirmaram à polícia episódios de violência e intimidação, inclusive com uso de arma de fogo para gerar medo entre os frequentadores do terreiro.
As vítimas também relataram cobranças financeiras abusivas por supostos trabalhos espirituais, criando um ciclo de dependência e medo entre os membros da comunidade religiosa.
Medidas judiciais e prisões
Diante da gravidade dos relatos, a Justiça determinou várias medidas cautelares contra os investigados:
- Afastamento das atividades religiosas no terreiro
- Suspensão do porte de arma
- Proibição de contato com vítimas e testemunhas
- Cumprimento de mandados de busca e apreensão
Henrique Vorcaro Garcia foi preso por descumprir ordem judicial que o proibia de se aproximar do local dos fatos e das vítimas. O caso tramita sob segredo de justiça e envolve suspeita de crimes como estupro, violência sexual mediante fraude, importunação sexual, tortura, extorsão, ameaça e lesão corporal.
Defesa e posicionamento do terreiro
Em nota, a defesa de Henrique Vorcaro Garcia afirmou que "estão sendo tomadas todas as medidas para demonstrar a inocência religiosa dos sacerdotes presos para o pleno estabelecimento da verdade e justiça".
Já o Terreiro de Umbanda Omolokô Ilê Axé Guian se manifestou destacando que existe há 38 anos e sempre trabalhou de forma íntegra, praticando caridade e ajuda ao próximo. A instituição ressaltou que "a casa não se resume à figura de um sacerdote".
As investigações da Polícia Civil continuam apurando todos os detalhes deste caso que envolve abusos praticados sob o pretexto de rituais religiosos. As vítimas buscam justiça enquanto tentam superar os traumas vividos dentro do espaço que deveria representar proteção e espiritualidade.