
Era uma terça-feira comum em Bauru quando a notícia começou a circular pelos corredores da APAE — sumiço, preocupação, depois a tragédia. Cláudia Lobo, que dedicou anos da sua vida à instituição, tinha partido de forma violenta. Agora, anos depois, o peso da justiça finalmente se faz presente no Fórum Criminal.
Dois homens — um deles com passagem pela polícia — encaram o tribunal do júri acusados de um crime que deixou marcas profundas na comunidade. O que se seguiu ao desaparecimento da ex-secretária foi uma investigação minuciosa, quase detetivesca, que culminou nas acusações atuais.
Os detalhes que emergiram
A Promotoria não poupou esforços na descrição do caso. Falam em homicídio qualificado — e as qualificadoras são pesadas: motivo fútil, uso de recurso que impediu defesa da vítima, ocultação do cadáver. Uma combinação sinistra que, se comprovada, pinta um quadro brutal.
O local do crime? Uma chácara na região de Bauru. O cenário contrasta violentamente com a violência alegada — área rural, normalmente associada à paz, transformada em palco do pior tipo de drama humano.
O longo caminho até aqui
Não foi um processo rápido — a justiça brasileira raramente é. Desde aquele setembro fatídico de 2022 até este outubro de 2025, foram três anos de espera. Três anos nos quais a família de Cláudia precisou encontrar forças para continuar, enquanto o processo seguia seu curso burocrático inevitável.
E agora chegamos ao momento decisivo. Sete cidadãos comuns — seus nomes mantidos em sigilo — terão nas mãos a responsabilidade de dizer sim ou não à versão da acusação. É a democracia em sua forma mais crua: pessoas comuns julgando pessoas comuns sobre o pior dos atos.
O que se passa pela cabeça de um jurado nesses momentos? A responsabilidade deve ser esmagadora — decidir sobre a liberdade de alguém, sobre justiça para alguém que não está mais aqui para falar.
Para além dos autos
Cláudia não era apenas uma vítima num processo criminal. Era funcionária dedicada, parte de uma instituição que cuida dos mais vulneráveis. A ironia é cruel — quem trabalhava para proteger os frágeis tornou-se ela mesma vulnerável na pior das hipóteses.
A APAE de Bauru, como se pode imaginar, nunca mais foi a mesma. Como seguir normalmente quando uma colega some de forma tão violenta? O trauma coletivo permanece — silencioso, mas presente.
O júri promete ser tenso. Dois destinos em jogo — os acusados — e a memória de uma terceira pessoa, que não terá a chance de contar sua versão. A justiça humana, com todas as suas imperfeições, tenta preencher esse vazio.
O que esperar dos próximos dias? Drama, certamente. Emoção contida nos rostos dos familiares. Argumentos passionais de acusação e defesa. E no final, sete votos que definirão o que a sociedade de Bauru considera justiça para Cláudia Lobo.