
O cenário era de pura tensão. Lá estava ele, um brasileiro de 38 anos, diante da justiça argentina, encarando uma sentença que mudaria sua vida para sempre. Dez anos atrás das grades. A razão? Uma tentativa de assassinato que poderia ter alterado completamente os rumos políticos da Argentina.
A coisa toda aconteceu em setembro de 2022 — uma noite que muitos argentinos dificilmente esquecerão. Do outro lado da história estava ninguém menos que Cristina Fernández de Kirchner, ex-presidente e atual vice-presidente do país. A imagem da arma apontada a centímetros de seu rosto correu o mundo, causando calafrios em quem acompanhava pela TV.
O dia que quase terminou em tragédia
Era uma dessas noites comuns em Buenos Aires, ou pelo menos parecia ser. Cristina Kirchner chegava em sua residência no bairro de Recoleta quando, de repente, tudo mudou. Um homem se aproximou com uma pistola — uma Bersa .32 — e puxou o gatilho. O clique seco ecoou na calada da noite. A arma, por algum milagre do destino, não disparou.
Parece coisa de filme, não é? Mas foi real, muito real. As câmeras de segurança capturaram tudo, cada movimento, cada segundo daquela cena que parecia saída de um thriller político.
Quem é o condenado?
Fernando André Sabag Montiel, esse é o nome do brasileiro que agora enfrenta uma década na prisão. Natural do Rio Grande do Sul, ele tinha 35 anos na época do atentado. A justiça argentina foi categórica: condenação por homicídio qualificado tentado — agravado pelo uso de arma de fogo e por ter sido cometido contra uma figura pública.
O curioso — ou melhor, o assustador — é que ele não agiu sozinho. A investigação apontou uma parceira: a argentina Brenda Uliarte, de 23 anos. Ambos foram pegos rapidamente, graças às imagens que não deixavam margem para dúvidas.
O que a defesa alegou?
Aqui a coisa fica ainda mais complexa. Os advogados de Sabag Montiel tentaram de tudo. Alegaram que ele era uma "pessoa vulnerável", que sofria com problemas psiquiátricos. Disseram que ele não tinha condições de entender completamente o que estava fazendo.
Mas os juízes não compraram essa versão. Para o tribunal, estava claro que se tratava de um atentado planejado, premeditado. A arma estava carregada, o autor sabia perfeitamente o que estava fazendo. A sorte — ou o azar, dependendo do ponto de vista — foi que o mecanismo falhou.
E a cúmplice?
Brenda Uliarte, a outra peça desse quebra-cabeça macabro, também não saiu ilesa. Recebeu uma pena ainda maior: 15 anos de prisão. Os investigadores acreditam que ela teve participação fundamental no planejamento do ataque.
O caso revela uma teia de relações que vai além do que se imaginava. Não era um ato isolado de loucura, mas sim algo que foi tramado nos bastidores.
Reações políticas e sociais
Do lado de fora do tribunal, a tensão era palpável. A sentença foi recebida com mistura de alívio e indignação. Para os apoiadores de Kirchner, era uma vitória da justiça. Para os críticos, mais um capítulo na já conturbada política argentina.
O que ninguém discute é o simbolismo do caso. Uma ex-presidente, ainda em atividade política, quase morta em plena luz do dia — ou melhor, na calada da noite — em frente à própria casa. Isso me faz pensar: até que ponto a violência política está se tornando comum em nossa região?
A verdade é que o episódio deixou marcas profundas. Não só na carreira política de Kirchner, mas na própria democracia argentina. Um país que já viveu ditaduras e violência política não precisa reviver esses fantasmas.
Agora, com as sentenças definidas, resta aguardar os recursos — porque em casos assim, sempre há recursos. Enquanto isso, Sabag Montiel e Uliarte cumprem suas penas, e a Argentina tenta seguir em frente, mas sem esquecer o que quase aconteceu naquela noite de setembro.