
Imagine construir um império do zero, tijolo por tijolo, só para ver tudo desmoronar nas mãos de quem você mais confiava. Essa é a sina amarga – e, francamente, dramática – que vive hoje João Leopoldo Jacomel, um titã de 87 anos que forjou uma das maiores fabricantes de cadeiras do planeta.
O paranaense, figura lendária no mundo dos negócios, acabou de mover um processo que é um verdadeiro terremoto no cenário empresarial. Ele aponta o dedo diretamente para os próprios filhos, Roberto e Rogério Jacomel, acusando-os de um esquema complexo para desviar o controle da companhia. A quebra de confiança, segundo os documentos judiciais, foi monumental.
O cerne da questão? Uma manobra que, na visão do patriarca, transferiu assets cruciais da holding familiar para uma empresa específica dos filhos, a Móveis Jacomel, a famosa "Móveis JA". Tudo isso, alega ele, sem o seu aval consciente. Ele se diz lesado em uma participação majoritária que simplesmente... evaporou.
Uma História de Sucesso e Seus Desdobramentos Sombrios
A trajetória da família é o clássico conto do empreendedorismo brasileiro. Tudo começou com o avô, um simples vendedor de queijo, e cresceu até se tornar um colosso industrial. João Leopoldo, com uma visão aguçada, foi o grande arquiteto dessa expansão. Mas eis que o sucesso traz consigo desafios imprevistos – e, neste caso, dores de cabeça homéricas.
Os advogados do idoso são incisivos: os filhos teriam se aproveitado de sua avançada idade e de uma suposta fragilidade para forjar a sua assinatura e realocar pedaços valiosos do patrimônio. A defesa dos acusados, é claro, nega veementemente. Alega que o pai estava plenamente ciente e participou ativamente de todas as decisões. Dizem até que a estrutura foi criada justamente para protegê-lo, uma narrativa que o patriarca rejeita com veemência.
O Que Está Realmente em Jogo?
Não se trata de uma briguinha de família qualquer. O grupo é um gigante. Só a "Móveis JA" faturava, há alguns anos, valores estratosféricos, na casa das centenas de milhões de reais. Estamos falando de um legado que abrange desde fábricas até vastas propriedades de terra. O temor agora é que uma batalha judicial prolongada possa manchar a reputação da marca e afetar operações.
O caso joga um holofote cruel sobre um problema comum, porém pouco discutido: as transições de poder em impérios familiares. O que acontece quando o patriarca ou a matriarca precisa passar o bastão? Como garantir que a herança seja justa e que a confiança não seja violada? São perguntas que ecoam pelos corredores de muitas empresas no país.
Enquanto a Justiça não se pronuncia, a família Jacomel está irremediavelmente cindida. De um lado, um pai que se sente traído no auge de sua vulnerabilidade. Do outro, filhos que afirmam estar honrando o legado e protegendo o que foi construído. Uma coisa é certa: o tribunal será o palco final desse drama familiar que tem tudo – dinheiro, poder e uma pitada de tragédia shakespeariana.