Monitoramento de papagaio raro revela nova população de ipê-amarelo no ES
Papagaio leva a descoberta de ipê-amarelo raro no ES

Papagaio ameaçado guia cientistas até árvores raras no Espírito Santo

O trabalho de monitoramento de um papagaio ameaçado de extinção resultou em uma descoberta botânica significativa na Mata Atlântica capixaba. Pesquisadores que acompanhavam o comportamento do chauá na cidade de Linhares identificaram novas populações de ipê-amarelo, uma espécie que enfrenta risco crítico de desaparecimento.

Descoberta publicada em revista internacional

A importante revelação foi publicada nesta segunda-feira, 10 de junho, na prestigiada revista científica "Oryx – The International Journal of Conservation". O estudo demonstra como a observação cuidadosa de uma espécie pode abrir caminho para conhecer melhor outras, especialmente em áreas que ainda sofrem impactos ambientais desde o rompimento da barragem de Mariana em 2015.

Os pesquisadores monitoravam 34 indivíduos do papagaio-chauá em uma área florestal na região do Rio Doce quando notaram um comportamento peculiar: as aves pousavam e se alimentavam regularmente em árvores floridas de um tipo específico de ipê-amarelo.

Ipês mapeados em diferentes ambientes

Movidos pela curiosidade, os cientistas começaram a registrar a localização dessas árvores e confirmaram tratar-se de uma espécie listada como ameaçada no Espírito Santo e em outros estados. No total, foram mapeados oito ipês em plena floração, distribuídos em diferentes tipos de habitat.

Cinco dessas árvores estavam em fragmentos de floresta preservada, enquanto outras três ocupavam áreas abertas, incluindo pastagens e plantações de cacau. Com até 35 metros de altura e copas repletas de flores amarelas vibrantes, essas árvores se destacavam na paisagem e funcionavam como importantes fontes de alimento para diversas espécies de aves.

Espécies interligadas na conservação

O biólogo Ricardo da Silva Ribeiro, especialista em ipês e um dos autores do estudo, explicou a importância das interconexões ecológicas. "Essa descoberta mostra como as espécies estão interligadas. Proteger o chauá também significa proteger o ipê e todo o ecossistema ao redor", afirmou o pesquisador.

Ribeiro destacou que os pesquisadores já buscavam novas populações dessa árvore há anos, mas sem sucesso. "Sem flores, o ipê-amarelo acaba se confundindo com outras espécies de ipê mais comuns. Somente agora, integrando o trabalho com outros especialistas, é que conseguimos localizar essas populações ao Sul do município", completou.

Monitoramento integrado como estratégia

Para Flávia Chaves, pesquisadora do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), o achado reforça a necessidade de monitorar plantas e animais de maneira integrada. "O chauá ajudou a revelar novas populações de uma árvore rara e o ipê-amarelo, por sua vez, é essencial para a sobrevivência das aves no início da primavera, período de reprodução", explicou.

As informações coletadas serão utilizadas em planos regionais de conservação, oferecendo novas esperanças para a preservação tanto do ipê-amarelo quanto do papagaio-chauá. A descoberta evidencia como estratégias de monitoramento abrangentes podem revelar tesouros escondidos da biodiversidade brasileira.