Montanha de lixo escondida às margens de rio causa indignação no Reino Unido
Uma impressionante montanha de lixo descartado ilegalmente nas margens de um rio no interior do Reino Unido atingiu proporções tão gigantescas que pode ser observada diretamente do espaço através de satélites. O mais surpreendente é que essa catástrofe ambiental passou despercebida por meses, mesmo estando localizada ao lado de uma movimentada rodovia.
As dimensões chocantes do desastre ambiental
Escondida atrás de uma densa fileira de árvores próximo à rodovia A34, a colossal pilha de resíduos se estendia por um comprimento equivalente a três piscinas olímpicas e alcançava a altura do telhado de uma casa de dois andares. Motoristas que transitavam diariamente pela região passavam completamente alheios ao desastre ambiental que se formava a poucos metros da estrada.
A origem exata do lixo e há quanto tempo a pilha vinha crescendo permanecem um mistério, mas a descoberta recente gerou indignação generalizada diante da evidente crise ambiental em formação. O caso também destacou a difícil batalha que a Inglaterra enfrenta contra quadrilhas criminosas especializadas em descarte ilegal de resíduos.
"É chocante como conseguiram passar despercebidos", afirmou Liz Gyekye, representante da ONG ambiental Thames 21. "Esperamos que esses responsáveis sejam encontrados rapidamente e punidos por seus crimes. Esta é uma catástrofe ambiental acontecendo às portas de um dos rios mais preciosos do nosso país."
Ameaça iminente aos rios britânicos
Com a aproximação das chuvas de inverno e considerando que o lixo está acumulado em uma planície alagável, existe preocupação genuína de que os resíduos sejam arrastados para o rio Cherwell, que passa pelo campus da Universidade de Oxford antes de se unir ao Tâmisa, que segue até Londres e finalmente deságua no mar.
Embora o caso tenha ganhado notoriedade pública apenas na semana passada, a Agência Ambiental da Inglaterra já havia identificado a área como um ponto de alto risco para descarte ilegal após tomar conhecimento da situação em julho, quando emitiu uma ordem de paralisação. No mês passado, a agência obteve uma ordem judicial para fechar o local após constatar que os despejos continuavam ocorrendo.
Investigação revela cronologia do crime ambiental
Imagens de satélite obtidas pela Thames21 mostram campos verdes na área em abril de 2024, contrastando radicalmente com uma faixa esbranquiçada de lixo entre duas fileiras de árvores registrada em julho deste ano. A investigação criminal já está em andamento, tratando o caso como crime ambiental grave.
Semanas antes de o público tomar conhecimento do depósito ilegal nas margens da rodovia A34, próximo ao vilarejo de Kidlington, o governo britânico já enfrentava críticas de um comitê do Parlamento por agir lentamente diante de um problema que, segundo estimativas oficiais, custa 1 bilhão de libras (aproximadamente R$ 6,9 bilhões) por ano à economia inglesa.
O Comitê de Meio Ambiente e Mudança Climática da Câmara dos Lordes revelou em relatório recente que a quantidade de lixo descartado ilegalmente anualmente no país seria suficiente para encher 35 vezes o estádio de Wembley, que possui capacidade para 90 mil espectadores.
Falhas sistêmicas no combate ao descarte ilegal
Shaista Ahmad Sheehan, presidente do comitê parlamentar, foi enfática ao criticar as autoridades: "Apesar da escala e da gravidade desses crimes, denunciados por cidadãos em muitos casos, encontramos múltiplas falhas da Agência Ambiental e de outras autoridades, desde respostas lentas a denúncias públicas repetidas até uma lamentável falta de condenações bem-sucedidas".
O descarte ilegal conhecido como "fly-tipping" tornou-se um problema crescente no Reino Unido, envolvendo desde sacos de lixo doméstico até eletrodomésticos e móveis descartados em áreas urbanas e rurais. A prática preocupa proprietários de terras e governos locais, além de manchar a imagem de um país que tradicionalmente se orgulha de suas paisagens naturais.
Dados oficiais compilados pelo grupo ambiental Keep Britain Tidy registraram mais de 1,1 milhão de casos de fly-tipping entre 2023 e 2024. Frequentemente realizado por transportadores ocasionais que oferecem remover entulho por preços baixos usando veículos não identificados, o descarte ilegal representa uma infração difícil de coibir e extremamente custosa para resolver quando os proprietários de terras são responsabilizados por lixo jogado em suas propriedades.
O caso da montanha de lixo visível do espaço serve como um alerta dramático sobre a urgência de medidas mais eficazes contra grupos criminosos organizados que operam com caminhões e equipamentos para realizar descartes em escala industrial, representando um desafio ainda maior para as autoridades ambientais britânicas.
