Os pescadores tradicionais da Baía de Guanabara enfrentam uma batalha diária contra o acúmulo crescente de lixo que ameaça não apenas o meio ambiente, mas também seu sustento e modo de vida. A situação crítica foi tema do primeiro episódio de uma série de reportagens do RJ1 sobre mudanças ambientais, exibida paralelamente à COP30, Conferência do Clima da ONU em Belém.
Crise na pesca artesanal
A pescadora Branca Rios resume a situação com uma afirmação contundente: "o lixo tem sido o protagonista da Baía". Os profissionais relatam que, atualmente, frequentemente capturam mais plástico do que peixes durante suas jornadas de trabalho.
Thiago Couto explica que a atividade é realizada de forma artesanal, utilizando métodos tradicionais passados por gerações. "Muitas famílias em volta da Guanabara dependem exclusivamente dessa pescaria, dependem da Guanabara para sobreviver. É um modo de subsistência", destaca ele.
Técnicas ancestrais versus realidade atual
O método de pesca utilizado é a apneia, uma forma de pesca subaquática onde o profissional mergulha em busca do peixe. Thiago compartilha que aprendeu a técnica com a mãe: "Essa pescaria de catar só com a mão eu aprendi com a minha mãe, eu aprendi desde cedo a observar as vidas em volta das pedras com ela".
No entanto, mesmo com todo o conhecimento tradicional, os pescadores testemunham o desaparecimento progressivo dos peixes ao longo das décadas. Luiz Antônio, que pesca desde os 12 anos, contrasta a realidade atual com relatos do passado: "Eu já ouvi história de pescadores tirarem mais peixes, encher até o barco todo e a rede ter que ficar no mar".
Queda drástica na produção
Renato Oliveira, com quase 30 anos de experiência, oferece um testemunho alarmante sobre o declínio da pesca: "Quando você vinha com dois panos, três panos de rede e fazia sua pescaria do dia. Hoje você bota quilômetros de rede e não enche nem meia caixa de peixe. Tá diminuindo cada vez mais, tem peixe que tá sumindo".
Wilson Pereira da Silva, presidente da Colônia de Pescadores Z10, revela que os profissionais precisam adaptar suas técnicas para minimizar a captura de lixo: "O acúmulo de lixo na Baía de Guanabara tá sendo tanto que tem dia que você não vê peixe na sua rede, você vê plástico. A gente tem de colocar a rede sem cruzar com a maré, porque senão pega muito plástico".
A situação se torna ainda mais preocupante quando consideramos que a pesca artesanal representa não apenas uma atividade econômica, mas um patrimônio cultural e familiar que está seriamente ameaçado pela poluição descontrolada.
Enquanto líderes mundiais discutem o futuro do planeta na COP30, os pescadores da Baía de Guanabara vivem na prática as consequências do desequilíbrio ambiental, servindo como alerta vivo sobre a urgência de ações concretas para preservação dos ecossistemas marinhos.