Enquanto líderes mundiais discutem políticas climáticas na COP30, o representante de Kiribati soa o alarme: seu país está literalmente desaparecendo sob as águas do Oceano Pacífico. Robert David Karoro, coordenador nacional da Kiribati Climate Action Network, falou em nome das 130 mil pessoas que veem seu território ser engolido pelo mar diariamente.
Um país que some do mapa
Localizadas no meio do Pacífico, as 33 ilhas de Kiribati são tão pequenas que aparecem como pontinhos em um globo terrestre. Na realidade, 20 delas abrigam 130.000 pessoas que enfrentam os efeitos diretos das mudanças climáticas. A capital do país tem seu ponto mais alto a apenas 3 metros acima do nível do mar, tornando-a extremamente vulnerável ao aumento dos oceanos.
"O impacto é diário", descreve Karoro. "Vivemos em ilhas muito baixas. Com o aumento das marés e ressacas, observamos nossa terra ser engolida diante dos olhos. As casas estão sendo destruídas. O terreno onde eu brincava quando criança, os coqueiros em que subia para pegar cocos... Tudo isso está desaparecendo."
Consequências para toda a população
O problema afeta praticamente 100% da população de Kiribati. As ilhas são tão estreitas que não há para onde fugir quando o mar avança. Mesmo os moradores do interior sofrem com a contaminação das fontes de água doce pela intrusão da água salgada.
Diante da impossibilidade de construir caras barreiras de concreto, a população desenvolve soluções comunitárias. "Uma das iniciativas mais comuns é o programa de engajamento de jovens para plantar manguezais nas linhas costeiras", explica Karoro. "Essa vegetação tem se mostrado muito eficaz para reduzir o impacto das ondas que destroem a terra."
30 anos de fracasso nas negociações climáticas
Para o representante de Kiribati, as Conferências das Partes (COPs) têm avançado, mas em ritmo insuficiente. "Há progresso, mas ele é lento. E isso ocorre porque nós o tornamos lento", critica.
Karoro faz uma avaliação contundente: "Chegamos ao Acordo de Paris, mas não a um compromisso real. Não dá para simplesmente concordar com algo e deixar por isso mesmo. É aí que as coisas emperram, porque não há ação acompanhando os tratados."
O tom se torna ainda mais urgente quando ele reflete sobre as três décadas de negociações climáticas: "Cada número que acrescentamos a uma COP significa que fracassamos naquele ano. Já são 30 anos fracassando. Por quanto tempo mais seguiremos fracassando?"
O apelo final do representante de Kiribati é direto: "É preciso agir. Espero que as ações sejam tomadas e que isso não seja mais objeto de tanto debate ou negociação." Enquanto o mundo discute, seu país continua desaparecendo mapa a mapa, onda após onda.