Um território no interior de São Paulo, repleto de rochas antigas, fósseis de relevância mundial e paisagens espetaculares, está na corrida para se tornar o sétimo geoparque brasileiro reconhecido pela Unesco. O Geoparque Corumbataí abrange nove municípios e guarda evidências geológicas que narram a separação dos continentes e a formação do Oceano Atlântico.
O que é o projeto Geoparque Corumbataí?
Coordenado pelo professor Alexandre Perinotto, da Unesp de Rio Claro, a iniciativa não propõe a criação de um parque fechado, mas sim a integração de um território com identidade geológica e cultural única. A área engloba as cidades de Analândia, Charqueada, Cordeirópolis, Corumbataí, Ipeúna, Itirapina, Piracicaba, Rio Claro e Santa Gertrudes, todas na Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí.
O objetivo é conciliar a proteção desse patrimônio natural com educação, pesquisa e desenvolvimento sustentável, principalmente através do geoturismo. A ideia é instalar placas explicativas e tótens para que visitantes e moradores compreendam a importância científica e histórica das formações rochosas, cachoeiras, morros e trilhas da região.
O tesouro geológico do interior paulista
O dossiê que será enviado à Unesco se baseia em achados científicos excepcionais. Um dos carros-chefe é o fóssil do Mesossaurus, um réptil que viveu há 270 milhões de anos. Seus restos são encontrados tanto na região de Rio Claro quanto na África do Sul.
Como esse animal não poderia ter atravessado o oceano, sua presença em ambos os lados do Atlântico é uma prova biológica de que Brasil e África já estiveram unidos no supercontinente Gondwana. Rochas que testemunham o próprio nascimento do Atlântico e fósseis de quando a região era um litoral antigo, como os da Pedreira do Bongue em Piracicaba, completam o rico acervo.
Caminho até o selo da Unesco e desafios
O cronograma estabelecido pelo coordenador científico prevê a finalização de todos os planos técnicos exigidos até 2027, quando o dossiê será formalmente submetido. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (SDHU) informa que a primeira fase, em andamento, envolve a elaboração do Plano de Gestão, de Geoturismo e de Geoconservação.
A segunda fase tratará da identidade visual e da comunicação do projeto. No entanto, um dos maiores desafios, segundo Perinotto, é a articulação política e a continuidade administrativa entre os nove municípios, já que a adesão ao geoparque não é obrigatória. Após a submissão em 2027, a Unesco terá dois anos para avaliação, com possível visita de delegados em 2028 e uma decisão final em 2029.
Impacto esperado para a região
Conquistar o selo de Geoparque Global da Unesco funciona como um certificado de qualidade internacional, que atrai turistas, pesquisadores e investimentos. O professor Perinotto cita o exemplo do Geoparque de Arouca, em Portugal, que revitalizou uma vila medieval ao transformar sua geologia em atrativo cultural.
No Brasil, existem atualmente seis geoparques reconhecidos, sendo o Geoparque Araripe, no Ceará, o pioneiro. A aprovação do Corumbataí seria a primeira no estado de São Paulo, potencializando a economia local através de hospedagem, gastronomia e comércio ligados ao turismo de base comunitária e científico.