A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP30, teve início nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025, em Belém, Pará, com um cenário de expectativas frustradas mesmo antes de suas discussões se aprofundarem.
Desafios urgentes para frear o aquecimento global
As 160 delegações presentes - número que supera o quórum necessário de 131 países, mas inferior ao observado em conferências anteriores - debaterão as práticas fundamentais para cumprir o Acordo de Paris, firmado há exatamente dez anos. O roteiro é conhecido e urgente, mas a disposição política para implementá-lo tem se mostrado insuficiente para conter o aumento da temperatura global em 1,5 graus Celsius, limite já ultrapassado no ano passado.
Um dos pontos críticos são as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que cada país anuncia como meta de redução de emissões de carbono. Até o momento, apenas 69 países divulgaram seus objetivos, cobrindo cerca de dois terços das emissões globais. Alguns dos maiores poluidores sequer se comprometeram, como Estados Unidos e Índia.
Metas insuficientes e financiamento climático
A China, maior emissor mundial, apresentou uma meta de redução entre 7% a 10% até 2035, mas especialistas alertam que o país precisaria cortar pelo menos 28% para cumprir os objetivos do Acordo de Paris. Sem a totalidade das NDCs, fica praticamente impossível estimar qual cenário climático o planeta enfrentará.
Antonio Guterres, Secretário-Geral da ONU, e especialistas admitem que o limite de 1,5 grau já ficou para trás e que o mundo caminha para um aquecimento superior a 2 graus Celsius. Para retornar a menos de 1,5 grau até o final do século, as emissões globais devem cair quase pela metade até 2030 e serem zeradas até 2050.
As atuais NDCs permitiriam uma redução de apenas 10% das emissões globais de gases do efeito estufa, segundo estimativas do UNFCCC, órgão da ONU para mudanças climáticas.
Adaptação e transição energética
Diante das dificuldades em estabelecer metas mais ambiciosas, os delegados apostam suas fichas na adaptação climática, que envolve financiamento para obras de infraestrutura capazes de minimizar os impactos das mudanças climáticas na população, especialmente nos grupos mais vulneráveis.
A situação é particularmente dramática na África e nos países-ilha, que sofrem com o aumento do nível dos oceanos. O debate deve girar em torno da definição de indicadores para medir o progresso nesse campo (os GGA's) e dos modelos de financiamento.
Os chamados "meios de implementação" somam 1,3 trilhão de dólares por ano até 2035, cifra muito superior aos atuais 300 bilhões de dólares que os países se comprometeram a repassar. Uma das medidas discutidas é o ingresso de capital privado, mas especialistas consideram improvável que essa quantia seja aceita pelos países colaboradores.
Na transição energética, o texto acordado na COP28 em Dubai fala em "transição para longe dos combustíveis fósseis", o que tem gerado discussões semânticas e pouca ação prática. O Brasil, entre os dez maiores produtores mundiais de petróleo, promete quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis, mas simultaneamente busca explorar novas jazidas de petróleo na Margem Equatorial, na foz do rio Amazonas.
Durante a cúpula de líderes, o presidente Lula justificou a postura como forma de financiar a transição energética e chegou a defender a criação de um novo fundo, sem detalhar seu funcionamento.