Primeiro registro de acauã na Mata de Santa Genebra em Campinas
Acauã é registrado pela 1ª vez na Mata de Santa Genebra

Um registro inédito movimentou a comunidade científica e ambientalista de Campinas no final de outubro: pela primeira vez, um acauã (Herpetotheres cachinnans) foi avistado na Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de Santa Genebra.

O momento do registro histórico

O flagrante foi feito pelo biólogo Thomaz Henrique Barrella, que trabalha na Fundação José Pedro de Oliveira, órgão gestor da ARIE Mata de Santa Genebra. O registro ocorreu por volta das 8h da manhã na borda da mata, próximo à divisa com uma área particular de plantio.

"Eu estava acompanhado do também observador de aves, amigo e parceiro da FJPO José Dionísio Bertuzzo. O acauã foi identificado pelo canto e posteriormente localizado", explicou Thomaz Barrella.

Os observadores conseguiram fotografar e filmar a ave após reproduzirem o playback de seu canto característico. O acauã permaneceu visível por aproximadamente vinte minutos, tempo suficiente para documentar adequadamente o registro.

Significado do achado para a biodiversidade

O acauã é uma ave de hábitos alimentares especializados, conhecida por sua preferência por serpentes - incluindo tanto espécies não peçonhentas quanto peçonhentas. Sua dieta também pode incluir lagartos, morcegos e até parasitas como carrapatos que infestam o gado.

Para se proteger durante a caça a serpentes, a espécie desenvolveu adaptações evolutivas notáveis nas patas e dedos, com escamas mais rígidas e espessas que impedem as presas de penetrar e causar ferimentos ou envenenamento.

Thomaz Barrella já havia registrado o acauã no Vale da Garças, outra região de Campinas, mas esta foi a primeira documentação oficial na Mata de Santa Genebra, que agora conta com 249 espécies de aves em seu Plano de Manejo atualizado.

Importância ambiental da Mata de Santa Genebra

A presença do acauã na reserva é considerada um indicador positivo do equilíbrio ambiental local. "Uma ave predadora como essa busca locais onde encontre fartura de alimento e saber que ela veio até Mata de Santa Genebra significa que aqui ela reconheceu um ambiente equilibrado", completou o biólogo.

A Mata de Santa Genebra possui 251,77 hectares e demonstra que áreas de tamanho moderado podem abrigar significativa biodiversidade quando adequadamente preservadas. A reserva funciona como refúgio regional para a fauna, oferecendo alimento e abrigo para diversas espécies.

A história da área remonta ao final do século XIX, quando fazia parte da Fazenda Santa Genebra, pertencente ao Barão Geraldo de Resende. Após passar por dificuldades financeiras, a propriedade foi leiloada e, no século XX, administrada pelo casal José Pedro de Oliveira e Jandyra Pamplona de Oliveira.

Um aspecto curioso da doação ocorrida em 1981 é que Jandyra, já viúva, doou apenas a "sombra da mata" à Prefeitura de Campinas. Isso significa que a área permanecerá sob gestão municipal apenas enquanto a floresta se mantiver de pé - se qualquer incidente causar o desaparecimento da vegetação, a propriedade retorna às mãos da família Oliveira.

O registro do acauã reforça a eficácia das ações de preservação desenvolvidas pela Fundação José Pedro de Oliveira e consolida a importância deste fragmento florestal como santuário da biodiversidade no interior paulista.