O Brasil está no caminho certo ao colocar a implementação da transição energética no centro da agenda da COP30, segundo análise do executivo britânico Chris Fitzgerald, diretor de Assuntos Internacionais da Octopus Energy, uma das maiores empresas de energia renovável da Europa.
Foco na implementação é estratégia correta
Em entrevista exclusiva para a TV Globo durante a conferência em Belém, Fitzgerald afirmou que o foco do Brasil na implementação é absolutamente o correto. O especialista fez um balanço do progresso global no combate às mudanças climáticas, lembrando que há menos de dez anos o planeta parecia condenado a um aquecimento de 4°C até o fim do século.
As projeções atuais caíram para 2,6°C, um avanço considerável, mas ainda insuficiente para a meta de 1,5°C prevista no Acordo de Paris. Isso ainda não é longe o bastante, alertou o executivo, explicando que ainda falta um terço dos países definir seus planos climáticos para que a redução global de emissões ganhe tração real.
Revolução tecnológica não chega ao bolso do consumidor
Fitzgerald destacou que a transição energética está acontecendo por razões econômicas, e não ideológicas, sinalizando que a mudança para energias limpas é irreversível. Porém, fez um alerta importante: a revolução tecnológica não está chegando ao bolso das pessoas.
Nos últimos dez anos, 15 vezes mais energia solar foi adicionada à matriz global do que o previsto, e o custo de tecnologias como painéis solares e baterias caiu 90%. Ainda assim, o preço da energia não está sendo sentido nos bolsos das pessoas em casa.
Para o especialista, o próximo passo crucial é garantir que o avanço tecnológico se traduza em acesso e economia. O que precisamos fazer é focar em como oferecer excelente atendimento ao cliente e energia acessível, para que as famílias possam beneficiar da transição energética, afirmou.
Brasil como vitrine global de energia renovável
Na avaliação do executivo, o Brasil é hoje um líder mundial em transição energética, com cerca de 90% de sua eletricidade já proveniente de fontes renováveis. Fitzgerald elogiou o trabalho muito ponderado sendo feito para garantir energia confiável e acessível aos clientes e destacou a importância de dar ao consumidor escolha sobre a origem da energia.
O Brasil tem a oportunidade de liderar não apenas pelo número de energias renováveis em seu sistema, mas em como elas estão chegando aos clientes, enfatizou.
Desafios globais da transição energética
Globalmente, a transição encontra obstáculos que vão da infraestrutura à política. Um dos principais desafios técnicos, explicou o executivo, é descobrir como integrar as energias renováveis para que não sobrecarreguemos a rede.
Ele também reconheceu que países fortemente dependentes do petróleo, especialmente no Oriente Médio, enfrentam uma transição mais complexa. O petróleo é uma grande fonte de dinheiro, e mudar esse modelo não é tão fácil quanto em outros países.
Apesar dos desafios, Fitzgerald acredita que a virada já começou e que o Brasil pode ser uma das forças que aceleram essa transformação global. O que está acontecendo é empolgante aqui e em todo o mundo, concluiu o diretor da Octopus Energy.
