Um estudo alarmante da ONG californiana Carbon Plan, em parceria com o Washington Post, revela que Belém, cidade escolhida para sediar a COP30 em 2030, caminha para se tornar a segunda cidade mais quente do planeta até 2050.
Panorama assustador do calor em Belém
A pesquisa, divulgada em 10 de novembro de 2025, projeta um salto dramático no número de dias de calor extremo na capital paraense. Belém passará dos atuais 50 dias anuais de calor elevado para impressionantes 222 dias perigosamente quentes por ano até 2050 - um aumento assombroso de 344%.
Esse avanço representa o maior crescimento entre todas as grandes cidades analisadas no estudo global. Apenas Pekambaru, na Indonésia, apresenta cenário similar em gravidade, com projeção de 344 dias anuais de calor insalubre.
Impacto global do aquecimento
As projeções fazem parte de um panorama climático global preocupante. Até 2050, cinco bilhões de pessoas estarão expostas a pelo menos um mês de temperaturas potencialmente letais - mais que o dobro do registrado no início dos anos 2000.
O estudo utiliza o indicador de "bulbo úmido", que combina temperatura, umidade, radiação solar e vento. Acima de 32°C nesse indicador - equivalentes a aproximadamente 48°C de sensação térmica - até adultos saudáveis podem sofrer superaquecimento em poucos minutos de exposição ao ar livre.
Fatores que intensificam o problema em Belém
Belém enfrenta desafios adicionais que ampliam o desconforto térmico. Apesar da fama dos túneis verdes formados por mangueiras no centro, a cidade sofre com baixa arborização quando considerada toda a área urbana.
Atualmente, Belém possui cerca de 2,5 árvores por metro quadrado para cada morador, muito abaixo dos 9 a 12 defendidos pela Organização Mundial da Saúde. O déficit é ainda mais evidente nas periferias, onde a vegetação rareia e a sensação térmica dispara.
Moradores já notam mudanças significativas: o calor se intensificou nos últimos anos e até a tradicional chuva da tarde, antes quase certa entre 14h e 16h, deixou de ser frequente.
COP30: Esperança contra o cenário infernal
O estudo reforça a urgência climática que estará no centro das discussões da COP30, marcada para acontecer em Belém. Entre os temas mais esperados estão:
- Adaptação urbana ao calor extremo
- Financiamento climático para cidades vulneráveis
- Mecanismos de proteção às populações periféricas
- Metas mais ambiciosas para conter a escalada das temperaturas
A conferência pode marcar uma virada de chave entre promessas e a implementação efetiva das metas climáticas. Como país-sede, o Brasil assume o protagonismo político e técnico da conferência, com a Amazônia ganhando centralidade como símbolo e laboratório da ação climática global.
O governo brasileiro defende que o mundo avance menos em novas promessas e mais no cumprimento das metas já assumidas, acelerando a entrada em vigor de medidas concretas.
Contudo, esse papel de liderança convive com tensões. Projetos de exploração de petróleo na Amazônia e outras contradições da política energética brasileira têm sido apontados por analistas como potenciais fragilizadores da credibilidade do Brasil como referência climática.
Os resultados da COP30 terão impacto direto sobre a capacidade de Belém, e de outras cidades tropicais, de responder ao avanço do calor extremo nas próximas décadas.