Reino Unido é premiado com o Fóssil do Dia durante conferência climática
Nesta terça-feira (12), o Reino Unido conquistou o indesejado título de Fóssil do Dia, um antiprêmio concedido por organizações da sociedade civil durante as conferências do clima das Nações Unidas. A distinção irônica é destinada aos países que, na avaliação dos ativistas, mais atrapalham o combate à crise climática.
O motivo da premiação controversa
De acordo com comunicado divulgado pela Climate Action Network (CAN), rede que reúne mais de 1.900 organizações em 130 países, o Reino Unido bloqueou o avanço das discussões sobre o Programa de Trabalho de Transição Justa (JTWP). Durante o debate, a maioria dos países, incluindo o grupo G77 + China - um dos maiores blocos da COP - apresentou propostas para criar o mecanismo, voltado a coordenar o apoio internacional a economias em desenvolvimento.
O que torna a situação ainda mais paradoxal é que a iniciativa havia sido reconhecida positivamente no dia anterior, recebendo o prêmio Raio do Dia. Porém, o Reino Unido se recusou a apoiar a criação do mecanismo global, argumentando que as estruturas existentes da ONU já seriam suficientes, desconsiderando assim as demandas de países do Sul Global.
Críticas da sociedade civil
A CAN não poupou críticas ao governo britânico, destacando a ironia da posição adotada. "É uma ironia especial dizer aos países em desenvolvimento que eles não precisam de apoio — justamente em uma sessão sobre justiça e cooperação", afirmou a rede em seu comunicado.
Segundo observadores presentes nas negociações, o governo britânico também teria defendido que o conceito de transição justa fosse tratado apenas como um tema doméstico, e não internacional. Essa posição foi interpretada como uma tentativa de limitar o alcance da cooperação global em um dos temas mais sensíveis para nações em desenvolvimento.
A CAN ressaltou que, apesar de o Reino Unido ter exemplos positivos em seu território, como um novo programa de empregos verdes, sua postura em Belém "minou o espírito de solidariedade que deveria guiar a transição justa". A organização ainda fez um apelo: "Ainda há tempo para o Reino Unido mostrar liderança e apoiar um mecanismo global que garanta uma transição que não deixe ninguém para trás".
Entenda o prêmio Fóssil do Dia
O Fóssil do Dia é um prêmio simbólico e irônico concedido uma vez por dia durante as conferências climáticas da ONU desde 1999. Seu nome faz alusão aos combustíveis fósseis, principal fonte de emissão de gás carbônico. A lógica é simples: leva o prêmio o país ou grupo que, naquele dia, teve a pior atuação em relação à proteção do meio ambiente.
As razões para receber o antiprêmio podem variar desde decisões controversas e discursos inadequados até bloqueios de negociação ou falta de ambição climática. É importante destacar que o Fóssil do Dia não faz parte da organização oficial da COP - quem organiza e escolhe os vencedores é a CAN.
Histórico do antiprêmio
O Brasil já foi agraciado com o Fóssil do Dia em algumas ocasiões. Em 2023, o país recebeu a distinção por ter aderido à Opep+, grupo de aliados que cooperam com a organização dos países exportadores de petróleo. Durante a COP23, em 2017, o Brasil também foi criticado por propor subsídios bilionários à exploração de petróleo na camada do pré-sal.
Na COP29, realizada em 2024, o primeiro Fóssil do Dia foi para o G7, o grupo das maiores economias do mundo. Segundo os organizadores, o bloco não apresentou avanços no financiamento climático destinado a países mais pobres, considerado essencial para uma transição global justa.
A polêmica envolvendo o Reino Unido nesta edição da conferência climática evidencia as tensões entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre quem deve arcar com os custos da transição para uma economia de baixo carbono e como garantir que nenhuma nação seja deixada para trás nesse processo.