O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um alerta contundente durante a Cúpula do Clima em Belém, nesta sexta-feira (7 de novembro de 2025). Ele afirmou que os conflitos armados globais, com destaque para a guerra na Ucrânia, estão revertendo anos de progresso na redução de emissões de gases poluentes e podem levar o planeta a um colapso ambiental.
Guerra e retrocesso ambiental
Em discurso na abertura da segunda sessão temática da cúpula, Lula foi direto ao ponto: "Gastar com armas o dobro do que destinamos à ação climática é pavimentar o caminho para o apocalipse climático". O presidente destacou que o conflito na Ucrânia, invadida pela Rússia há quase quatro anos, interrompeu um período de redução nas emissões e levou à reabertura de minas de carvão.
Lula foi enfático ao afirmar que "não haverá segurança energética em um mundo conflagrado". A Cúpula do Clima, que termina nesta sexta-feira, reúne líderes de diversos países como preparação para a COP30, marcada para ocorrer de 10 a 21 de novembro na capital paraense.
Desigualdade na transição energética
O presidente brasileiro chamou atenção para as disparidades no acesso à energia limpa. Segundo ele, 2 bilhões de pessoas não têm acesso a combustíveis adequados para cozinhar, enquanto 660 milhões dependem de lamparinas e geradores a diesel em periferias urbanas e comunidades rurais da América Latina e África.
"Duzentas milhões de crianças frequentam escolas sem acesso à luz elétrica", destacou Lula, acrescentando que sem energia também não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna.
Críticas ao sistema financeiro e novo fundo
Lula criticou fortemente o apoio financeiro ao setor de combustíveis fósseis. "Os 65 maiores bancos do mundo concederam US$ 869 bilhões para o setor de petróleo e gás no ano passado", revelou. Desde a adoção do Acordo de Paris, a participação dos combustíveis fósseis na matriz energética global diminuiu apenas de 83% para 80%.
Como solução, o presidente anunciou a criação de um fundo para canalizar lucros do setor de óleo e gás para investimento em energia renovável. "Direcionar parte dos lucros com a exploração de petróleo para a transição energética permanece um caminho válido para os países em desenvolvimento", afirmou.
O evento contou com a participação de autoridades internacionais como o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
Encerrando seu discurso, Lula cobrou a implementação do acordo da COP28 para triplicar a energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030. Ele desafiou os líderes presentes: "Os cientistas já cumpriram seu papel. Nós, os líderes, devemos decidir se o Século 21 será lembrado como o século da catástrofe climática ou como o momento da reconstrução inteligente".