A primeira semana de negociações técnicas da COP30, Conferência do Clima da ONU realizada em Belém, no Pará, chegou ao fim com avanços significativos em temas cruciais para o futuro do planeta. Os textos elaborados pelos especialistas serão submetidos à apreciação de ministros a partir do final do dia 15 de novembro de 2025, marcando o início da fase política e decisória do evento.
Um aspecto positivo que chamou a atenção dos observadores foi a adoção excepcionalmente rápida da agenda oficial desta COP em comparação com edições anteriores. Esse fato destravou as negociações desde os primeiros dias, criando uma dinâmica mais positiva para o andamento dos trabalhos.
Integração entre convenções ambientais
Segundo Florence Laoë, diretora sênior global de políticas climáticas da ONG Conservação Internacional, um dos pontos que mais evoluíram na primeira semana foi a integração das três convenções da ONU sobre meio ambiente: clima, biodiversidade e desertificação.
"Esse tema é importante porque, sendo convenções diferentes, cada país trabalha em silos, com departamentos separados que não conversam entre si", explicou Laoë em entrevista. "Isso compromete a eficiência e gera trade-offs: escolhas boas para uma convenção podem não servir aos objetivos das outras."
Embora um bloco de países estivesse inicialmente segurando a evolução do tema, houve desbloqueio das discussões nos últimos dois dias. A expectativa é de adoção de um reforço do mandato de sinergias, o que significa maior eficácia de resultados e uso mais eficiente dos recursos públicos internacionais e nacionais.
Progresso nos textos de negociação
Diferentemente do que costuma acontecer em conferências do clima, os textos resultantes das negociações sobre a maioria dos temas foram apresentados no prazo esperado para o final da primeira semana.
O texto que versa sobre os parâmetros de adaptação, por exemplo, foi disponibilizado na manhã do sábado, 15 de novembro. "Tivemos uma sinalização positiva esta semana com a inserção da proposta de triplicar o financiamento para adaptação no texto em negociação", avaliou Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.
Porém, Unterstell alerta: "Só que na semana que vem os negociadores terão que encarar uma verdade inconveniente: ninguém sabe como fechar o rombo financeiro da adaptação".
Artigos do Acordo de Paris em destaque
Segundo Laoë, o texto do artigo 6.8 do Acordo de Paris também já havia sido apresentado. Este dispositivo foca em colaborações que não envolvem a comercialização de créditos de emissão, como assistência financeira, transferência de tecnologia e capacitação, visando o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza.
Já o texto do artigo 6.4, referente ao mercado de carbono, provavelmente precisará de mais consultas na segunda semana. Isso se justifica por não ser um item oficial da agenda, apenas um relatório do órgão técnico.
Caminho para o financiamento climático
Embora ainda não totalmente concretizado, houve avanço na estruturação de um roteiro de ação entre as presidências de Baku e Belém para o financiamento climático. O mapa de ação foi lançado na semana anterior à COP30, e consultas sobre como avançar sobre o tema foram realizadas durante a primeira semana.
O grande desafio que permanece é definir como acompanhar o progresso até que os 1,3 trilhão de dólares sejam totalmente mobilizados, o que não deve ser conseguido nesta COP, mas o fato de haver um caminho estabelecido para isso representa um progresso importante.
Enquanto as negociações técnicas se encerram, os protestos continuam do lado de fora do local da COP30. Membros do movimento indígena Munduruku Ipereg Ayu realizaram manifestações em Belém nesta sexta-feira, 14 de novembro, lembrando que as discussões técnicas têm impacto direto na vida das populações mais vulneráveis às mudanças climáticas.