Agricultura regenerativa reduz 76% das emissões em Goiás
Produtores de Goiás cortam emissões com agricultura regenerativa

No coração do Cerrado goiano, produtores rurais estão liderando uma revolução silenciosa que combate as mudanças climáticas enquanto mantém a produtividade no campo. Em Montividiu, município do sudoeste de Goiás, agricultores estão adotando práticas de agricultura regenerativa para diminuir significativamente as emissões de gases poluentes na atmosfera.

O que é agricultura regenerativa?

Segundo a bióloga Marla Hassemer, a agricultura regenerativa não busca restaurar o meio ambiente ao seu estado original, mas sim aplicar técnicas que causem menor impacto ambiental. "A ideia é conciliar de forma equilibrada o cultivo, a produtividade e a natureza", explica a especialista.

Entre as principais técnicas utilizadas estão:

  • Rotação de culturas
  • Uso de adubos orgânicos
  • Plantio direto
  • Fertilizantes complexados

Resultados impressionantes no campo

Na propriedade da família Van Den Broek, a transição para a agricultura regenerativa já mostra resultados concretos. O produtor Eric Van Den Broek relata ter alcançado 76% menos emissões de gases de efeito estufa em comparação com propriedades que seguem o modelo tradicional.

Eric também testemunha os efeitos práticos do aquecimento global: "O que vem ocasionando com mais frequência é ou estresse hídrico, muito tempo sem chuva ou excesso de chuva. Pancadas bem isoladas com volume alto de chuva".

O ponto de partida para essa transformação foi uma análise detalhada do solo, que permitiu ajustar o uso de insumos e adotar fertilizantes mais eficientes, como o fertilizante complexado - que combina compostos orgânicos com produtos químicos e reduz perdas para a atmosfera.

Tecnologias e técnicas aplicadas

A fazenda investe pesado em adubo orgânico produzido em larga escala. A mistura leva esterco de boi, bagaço de cana e cama de frango, que fermentam por cerca de 45 dias, alcançando temperaturas próximas a 70°C - indicando intensa atividade de fungos e bactérias responsáveis pela decomposição.

O sistema funciona em ciclo fechado: o esterco da pecuária vai para a compostagem; a compostagem gera adubo orgânico para a lavoura; a lavoura alimenta o gado; e o gado produz mais esterco.

Outra estratégia inovadora é o uso de drone elétrico para pulverização, substituindo tratores a diesel e diminuindo a liberação de CO₂. Para implementar todas essas mudanças, Eric e seu pai Mário contam com uma rede de pesquisadores que presta consultoria. "A ciência nos ajuda a tomar decisão correta", afirma o produtor.

Tradição familiar e expansão do modelo

A preocupação ambiental na família Van Den Broek vem de longa data. Mário, pai de Eric, comprou a propriedade nos anos 1980, quando o solo ainda era degradado e ácido, e decidiu apostar no plantio direto - técnica que mantém uma camada de palha sobre a terra e reduz o revolvimento do solo.

"Quanto mais palha vai compondo no lugar, que é matéria orgânica, você começa a criar os fungos e a terra não esquenta tanto", explica o pioneiro.

Segundo a professora Darliane Castro, do Instituto Federal Goiano, o plantio direto reduz emissões ao manter o carbono armazenado nas plantas e no solo, sem devolvê-lo para a atmosfera.

O sucesso do modelo já inspira outros agricultores. Há cinco anos, apenas sete propriedades da região adotavam agricultura regenerativa. Hoje, são pelo menos 67 propriedades seguindo esse caminho.

Porém, desafios permanecem. Como explica o professor emérito da UFLA-MG Francisco Siqueira: "O produtor não pode ficar sem renda, então ele tem medo de fazer essa transição". O apoio técnico se mostra fundamental para superar essas barreiras e expandir ainda mais essa prática sustentável que beneficia tanto o produtor quanto o planeta.