Estudo: Pecuária brasileira pode reduzir emissões de CO2 em até 92,6% até 2050
Pecuária brasileira mira redução de 92,6% nas emissões até 2050

Um estudo inédito apresentado na COP30, realizada em Belém no mês de novembro, traçou um caminho ambicioso para a descarbonização da pecuária brasileira nas próximas décadas. A pesquisa, conduzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), projeta que o setor pode reduzir suas emissões de carbono em até 92,6% até o ano de 2050.

Quatro Cenários para um Futuro Sustentável

A análise da FGV Agro construiu quatro cenários factíveis para os próximos 25 anos. O primeiro, chamado de cenário de continuidade, considera a manutenção do atual ritmo de ganhos de produtividade e adoção de tecnologias. Neste caso, as emissões por quilo de proteína animal cairiam de 80 kg de CO₂ para 16,1 kg, uma redução de 79,9%.

O segundo cenário incorpora o cumprimento da meta do governo federal de zerar o desmatamento ilegal até 2030, elevando o potencial de corte de emissões para 86,3%. Já o terceiro leva em conta a adoção integral do Plano ABC+, com foco na recuperação de pastagens degradadas e sistemas integrados, como lavoura-pecuária, alcançando uma descarbonização de 91,6%.

O quarto e mais otimista dos cenários, que prevê a redução de 92,6%, soma todos os elementos anteriores à aplicação de tecnologias avançadas, como o uso de aditivos alimentares para reduzir a fermentação entérica (metano) nos animais e a prática do abate precoce.

Produção Crescente, Emissões Decrescentes

Um dos pontos mais destacados pela pesquisa é a capacidade do setor de aumentar a produção enquanto reduz seu impacto ambiental. Dados da ABIEC mostram que, desde 1990, a produtividade da pecuária nacional saltou 183%, ao mesmo tempo em que a área ocupada por pastagens recuou 18%.

Essa tendência deve se refletir nas emissões líquidas (emissões totais menos o carbono removido). Mesmo com o crescimento projetado do rebanho e da produção, o estudo indica que as emissões líquidas podem cair 60,7% no cenário de continuidade e até 85,4% no cenário mais otimista.

“Nosso objetivo foi compreender o papel da pecuária brasileira na agenda climática e identificar onde estão as maiores oportunidades de mitigação”, explica Camila Estevam, pesquisadora do FGV Agro. “Os resultados indicam que o setor tem condições de ampliar sua produção e, ao mesmo tempo, avançar em uma trajetória consistente de descarbonização, atuando como aliado da agenda climática”.

O Papel Crucial das Políticas Públicas

Para que o cenário mais avançado se torne realidade, o estudo é claro ao apontar a necessidade de políticas públicas robustas que sirvam de alavanca para o produtor rural. A erradicação da ilegalidade e o desmatamento zero até 2030 são considerados pré-requisitos essenciais.

Na visão da ABIEC, será fundamental colocar em prática instrumentos como o Plano Nacional de Identificação de Bovinos (PNIB) e a plataforma AgroBrasil+Sustentável, do Ministério da Agricultura, além de iniciativas estaduais. A criação de mecanismos de incentivo e financiamento para acelerar a adoção das práticas do Plano ABC+ também é vista como crucial.

“A pecuária brasileira tem um papel central na agenda climática e um enorme potencial para contribuir com a descarbonização, liberando espaço nas metas do Brasil em relação ao Acordo de Paris”, afirma Roberto Perosa, presidente da ABIEC. “Isso é motivo de muito orgulho, mas também aumenta ainda mais a nossa responsabilidade, pois precisamos continuar a acelerar o caminho que já estamos percorrendo”.

O estudo consolida a posição do Brasil, maior exportador mundial de carne bovina, não apenas como um gigante produtivo, mas como um ator fundamental na transição para uma economia global de baixo carbono, desde que os compromissos e investimentos necessários sejam mantidos.