Saberes ancestrais se unem à tecnologia na produção de chocolate
Uma iniciativa transformadora está revolucionando a vida do povo Paiter Suruí, em Cacoal, Rondônia. A implantação de uma biofábrica-escola dentro da Terra Indígena Sete de Setembro está capacitando a comunidade em todas as etapas da produção de chocolate, desde o manejo do cacau nativo até a finalização do produto.
Processo completo de fabricação
Durante quatro semanas de treinamento intensivo, os participantes aprendem cada fase da produção chocolateira. O processo inclui fermentação, secagem, torrefação, moagem, temperagem e embalagem, seguindo rigorosos padrões de qualidade.
O mestre chocolatier Cesar de Mendes, responsável pela capacitação, explica a importância do cuidado desde o início: "Realizamos uma seleção criteriosa dos frutos aptos para produzir cacau fino. Após a seleção, vem a quebra, fermentação, secagem e só então o produto segue para a fábrica".
Tecnologia a serviço da comunidade
Os equipamentos da biofábrica foram especialmente desenvolvidos para funcionar dentro do território indígena, garantindo que toda a cadeia produtiva aconteça na aldeia. Sônia Andrade, executiva do projeto, destaca: "O conceito dos laboratórios criativos da Amazônia é levar para as comunidades uma fábrica que garanta a qualidade da receita. As máquinas automatizadas permitem repetir o mesmo padrão sempre".
Impacto vai além da produção
Para o líder indígena Almir Suruí, o significado do projeto transcende a simples fabricação de chocolate. "Nosso povo está se capacitando e se apropriando da tecnologia para ter autonomia financeira e decidir o destino da nossa produção. O chocolate está sendo feito dentro do território, com a nossa marca. Isso é histórico".
A iniciativa se insere na estratégia de bioeconomia da sociobiodiversidade, que valoriza produtos da floresta em pé e estimula a geração de renda nas comunidades tradicionais.
Experiência transformadora
Entre os participantes, a experiência tem sido profundamente significativa. Para muitos, é o primeiro contato com o processo de fabricação do chocolate e a descoberta de novas possibilidades profissionais dentro do próprio território.
Márcia Suruí compartilha sua experiência: "Eu nunca imaginei trabalhar com chocolate. A partir do momento que cheguei aqui, entendi um pouco do processo de como fazer e foi uma experiência muito boa".
Chocolate com identidade cultural
De acordo com Almir Suruí, o chocolate produzido carrega muito mais do que cacau. Cada tablete representa o trabalho coletivo da comunidade e o valor da floresta em pé, transformando o cacau nativo em um produto impregnado de história, cultura e propósito.
"Estes aqui são chocolates originais da Terra Indígena Sete de Setembro. É um trabalho que está sendo feito para fortalecer a sustentabilidade do povo Paiter Suruí, a partir do seu território. Então, vamos buscando cada vez mais industrializar a bioeconomia da floresta", afirma o líder indígena.
Com sabor amazônico autêntico e origem certificada, o chocolate produzido na biofábrica tem potencial para conquistar novos mercados e levar a identidade Suruí para além das fronteiras do território indígena.