O agronegócio brasileiro consolidou-se como protagonista nas discussões globais sobre clima e sustentabilidade durante a primeira edição do Fórum Agro VEJA, realizado nesta segunda-feira, 24 de novembro de 2025, na Casa Fasano, em São Paulo.
Potencial ambiental do agronegócio brasileiro
Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), apresentou dados que comprovam a eficiência ambiental do setor. Segundo informações da Embrapa, 65,3% da vegetação nativa do país permanece preservada, sendo que impressionantes 29% desse total estão dentro de propriedades rurais.
O executivo destacou os avanços produtivos alcançados nas últimas décadas: a produção de carne aumentou mais de 220% nos últimos 35 anos, enquanto a área de pastagem foi reduzida em 16%. No mesmo período, a produção de grãos multiplicou por seis, com a área plantada crescendo apenas 2,2 vezes.
Tecnologia tropical e desconhecimento internacional
Lucchi enfatizou a transformação do setor baseada em tecnologia e ciência tropical, mencionando o impacto positivo da participação brasileira na COP. Ele revelou que muitos brasileiros e estrangeiros ainda desconhecem a eficiência da agricultura tropical.
"Ficaram abismados com o tamanho da raiz da braquiária", contou o diretor. "É isso que muitos precisam ver na prática para entender o que a gente fala das três safras."
Desafios para acelerar a descarbonização
Apesar dos avanços expressivos, Lucchi identificou entraves que limitam o ritmo da descarbonização no campo. O financiamento aparece como principal obstáculo: "Se nós queremos acelerar essa mudança, precisamos de recursos com juros acessíveis", afirmou, criticando a burocracia e morosidade que dificultam o avanço.
O debate sobre desmatamento também foi abordado. O diretor reforçou que a legislação brasileira já define claramente onde é possível abrir área, mas que estimular a expansão de fronteira não deve ser o caminho. "Precisamos buscar incentivos, não punições", defendeu.
Gargalos estruturais na Amazônia
Ao tratar especificamente da Amazônia, Lucchi foi enfático: a região enfrenta problemas estruturais que comprometem sua produção e competitividade. "Falta segurança jurídica, falta regulação fundiária, falta política pública e falta incentivo", enumerou.
Ele exemplificou com o caso de uma produtora de geleia de bacuri da Transamazônica que leva 30 dias para enviar seu produto ao Rio Grande do Sul e não consegue instalar câmaras frias por falta de energia adequada, apesar de possuir certificação orgânica.
"A logística inviabiliza a produção. Para discutir desmatamento, precisamos primeiro discutir desenvolvimento", completou.
A mensagem final do painel foi clara: para que o Brasil consolide sua liderança climática, será necessário alinhar políticas públicas, inovação e segurança jurídica de forma contínua, permitindo que a sustentabilidade deixe de ser exceção e se torne prática dominante em todo o campo brasileiro.