O governo brasileiro marcou posição na COP30, em Belém, com o lançamento de uma ambiciosa iniciativa internacional para recuperação de áreas agrícolas degradadas. Batizada de Iniciativa de Investimento em Agricultura Resiliente e Restauração de Terras (Raiz), o programa pretende mobilizar governos e capital privado em escala global.
Nova frente internacional pela recuperação de solos
Durante a conferência do clima realizada nesta quarta-feira (19 de novembro de 2025), o Brasil apresentou a Raiz com nove países fundadores: Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, Canadá, Japão, Noruega, Nova Zelândia, Peru e Reino Unido. A coalizão tem como objetivo principal ampliar o volume e a previsibilidade de recursos destinados à restauração de solos produtivos em todo o mundo.
A iniciativa se inspira em mecanismos financeiros bem-sucedidos como o Eco Invest, criado anteriormente pelo governo brasileiro para atrair capital privado para projetos sustentáveis. A Raiz aposta em instrumentos financeiros inovadores para reduzir riscos e facilitar investimentos de longo prazo na recuperação de terras agrícolas.
Dimensão do problema e oportunidades
Os números apresentados pelas autoridades brasileiras revelam a urgência do tema: mais de 20% das terras agrícolas do planeta, equivalentes a aproximadamente 1 bilhão de hectares, apresentam algum grau de degradação. A reversão de apenas 10% dessa área poderia recuperar 44 milhões de toneladas de alimentos anualmente, quantidade suficiente para alimentar 154 milhões de pessoas.
O financiamento, no entanto, ainda representa um desafio significativo. O déficit global para iniciativas de restauração chega a US$ 105 bilhões. A expectativa é que o setor privado possa contribuir com até US$ 90 bilhões em soluções baseadas na natureza aplicadas à agricultura.
Rastreabilidade e segurança no agronegócio
Paralelamente à iniciativa Raiz, o governo federal aproveitou a COP30 para anunciar o Programa Nacional de Rastreabilidade Voluntária (PNRV). O programa, apresentado pelo secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Irajá Lacerda, visa ampliar o controle sobre a cadeia produtiva e combater a infiltração do crime organizado no agronegócio.
O PNRV oferecerá crédito facilitado aos produtores que aderirem a uma plataforma digital capaz de monitorar, em tempo real, a origem e o trajeto de produtos agrícolas, pecuários e insumos, da fazenda ao consumidor final. A iniciativa pretende coibir desvios, fraudes, roubos de carga e a circulação de insumos adulterados ou contrabandeados.
Um benefício adicional destacado pelo ministério é a agilização da liberação aduaneira: a certificação e rastreabilidade podem reduzir em até 50 horas o tempo de espera nos portos.
A fase inicial do programa abrangerá granéis vegetais de Mato Grosso destinados aos portos de Santos e Rio de Janeiro. A meta é que o sistema alcance toda a produção agropecuária brasileira, que somou 292 milhões de toneladas em 2024.
O programa integra o Agro Brasil + Sustentável, lançado em 2025, e compõe um ecossistema digital voltado à rastreabilidade, boas práticas ambientais e sustentabilidade. A adesão será gratuita e voluntária, com benefícios como certificação de origem, redução de custos e facilitação de crédito.