O Banco da Amazônia (BASA) está aproveitando a COP30, realizada em Belém do Pará, para anunciar uma série de investimentos bilionários e parcerias internacionais voltadas para financiar projetos verdes na região. Sob a liderança do presidente Luiz Lessa, a instituição revelou estratégias concretas para conciliar crescimento econômico com preservação ambiental.
Três pilares estratégicos para o desenvolvimento sustentável
Em entrevista exclusiva, Luiz Lessa detalhou que o banco atua em três frentes principais. A primeira é o apoio aos pequenos produtores com recursos financeiros e assistência técnica, incluindo programas como o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
A segunda frente enfrenta o maior entrave da região: a infraestrutura energética. "Ainda temos aproximadamente 180 usinas queimando óleo diesel na Amazônia. Para cada litro de diesel queimado para gerar energia, dois ou três litros são gastos no transporte. É poluente e altamente ineficiente", explicou Lessa.
O terceiro pilar consiste em apoiar os hubs de desenvolvimento potenciais que cada região da Amazônia possui, considerando as particularidades locais - desde zonas francas até áreas mais voltadas para agronegócio.
Novos fundos e parcerias multilaterais
Recentemente, o BASA anunciou a criação de três fundos com objetivo de captar R$ 4 bilhões. O banco se comprometeu com R$ 500 milhões como investimento-âncora. Os fundos são voltados para:
- Infraestrutura verde (incluindo transição energética)
- Reflorestamento e crédito de carbono
- Resiliência em geral
"Com isso, saímos de um orçamento de 20% do FNO, o fundo constitucional - cerca de R$ 1,26 bilhão - para ter talvez R$ 5 bilhões destinados à transição energética na Amazônia", comemorou o presidente.
Além dos fundos próprios, o BASA está fechando parcerias multilaterais importantes. Um acordo com o Banco Mundial de US$ 100 milhões já foi aprovado pelas diretorias de ambos os lados e conta com garantia soberana do Tesouro. Outra parceria, com a Fundação de Desenvolvimento para transição energética, soma 80 milhões de euros (cerca de US$ 100 milhões).
Soluções energéticas adaptadas à realidade local
A transição energética na Amazônia segue uma abordagem pragmática. "Não podemos investir em eólica aqui, não temos essa capacidade. Energia solar sozinha é viável principalmente no Cerrado, em Tocantins", explicou Lessa.
A solução encontrada para os sistemas isolados - que não estão conectados ao grid nacional - é incentivar a transformação de usinas a diesel em usinas híbridas, funcionando com gás, bateria e energia solar.
O banco também mantém uma linha de crédito específica para pequenas comunidades ribeirinhas. "Com instrumentos simples - uma placa solar e uma bateria - conseguimos acumular energia para uma geladeira, oito lâmpadas. Isso é importante para famílias que não têm acesso à energia elétrica", destacou.
Bioeconomia e agricultura familiar
O conceito de bioeconomia é central na estratégia do BASA. Lessa define como "aquilo que você faz gerando benefício econômico com mínimo impacto ambiental". Como exemplo, citou os Sistemas Agroflorestais (SAF) e o manejo de produtos nativos como o cacau.
Na agricultura familiar, o desafio é significativo: na região Norte, entre 80% e 90% dos recursos são usados para pecuária. "Nosso grande desafio é: a gente consegue continuar com pecuária - é ancestral - mas o que mais conseguimos fazer junto?", questionou.
Os resultados começam a aparecer. "Quando chegamos aqui, fazíamos R$ 600 milhões em Pronaf em 2023, atendendo cerca de 30 mil produtores. Este ano vamos fazer mais de R$ 2 bilhões, atendendo em torno de 100 mil produtores", comemorou o presidente.
Critérios rigorosos e oportunidades de mercado
Todos os financiamentos do BASA passam por rigorosa análise ambiental. "A partir de um determinado valor, exigimos relatório de impacto ambiental - isso não é padrão no sistema financeiro", afirmou Lessa. Nos financiamentos menores, o banco utiliza imagens de satélite e mais de 30 itens de verificação.
O presidente destacou ainda as oportunidades de mercado que surgem com a rastreabilidade. "Temos o deforestation-free europeu, então se você não tem rastreabilidade, não consegue vender para a Europa. Já está em teste este ano, em vigência total no ano que vem."
Lessa enfatizou a necessidade de equilíbrio: "Hoje, a Amazônia tem 83% em média de preservação de cobertura florestal, mas mais de 70% da população vive abaixo do mínimo aceitável de IDH. Precisamos de sustentabilidade ambiental, social e econômica".
Durante a COP30, o banco pretende mostrar casos de sucesso replicáveis e atrair mais parceiros para atuar na região. "Recursos existem no mundo inteiro, necessidades na Amazônia são grandes demais. Precisamos combinar recursos com realidade", concluiu.