Cresce número de tornados no Brasil: Sul concentra maior risco
Número de tornados cresce no Brasil e preocupa

Aumento significativo de tornados preocupa especialistas

O Brasil vem registrando um crescimento alarmante no número de tornados nos últimos anos, com a região Sul concentrando as condições mais favoráveis para a formação desses fenômenos destrutivos. Dados recentes mostram que os registros passaram de 55 em 2021 para 88 neste ano, indicando uma tendência de aumento que preocupa meteorologistas e defensores civis.

Outbreak no Paraná e Santa Catarina

Na última sexta-feira (7), municípios do interior do Paraná e de Santa Catarina testemunharam um fenômeno conhecido como "outbreak" de tornados, quando várias tempestades produzem múltiplos tornados no mesmo intervalo de tempo. Segundo Mauricio Oliveira, meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria, "pelo menos provavelmente ocorreram mais do que 10 tornados, incluindo um tornado intenso" durante o episódio.

O tornado mais forte registrado nesse evento recebeu classificação preliminar F3 na escala Fujita, que vai até F5, demonstrando o poder destrutivo desses fenômenos. Ernani Lima, especialista em tornados do INPE, explica que "o tornado é uma coluna giratória que desce da base de uma nuvem de tempestade e tipicamente dura 10 a 15 minutos, mas com altíssimo poder destrutivo".

Por que o Sul é a região mais afetada?

A região Sul do Brasil reúne uma combinação única de fatores atmosféricos que favorecem a formação de tempestades rotativas. Ernani Lima detalha que "temos o transporte de umidade desde a Amazônia até o sul do Brasil, os chamados rios atmosféricos, somado à incursão de massas de ar polares pela Argentina".

Esse contraste entre ar quente e úmido da Amazônia e ar frio e seco vindo da Argentina cria o cisalhamento vertical do vento, condição essencial para o desenvolvimento de tempestades rotativas. A primavera é especialmente propícia para esses eventos, pois combina o aumento da umidade e do ar quente com os ventos intensos típicos do inverno.

Mauricio Oliveira ressalta que "nossa área é talvez o segundo maior corredor de tornados do mundo em termos de extensão", destacando a importância de investimentos em sistemas de alerta precoce.

Histórico trágico e perspectivas futuras

O Brasil já registrou eventos trágicos envolvendo tornados. O mais letal ocorreu em 1959 na divisa entre Santa Catarina e Paraná, deixando aproximadamente 90 mortos nas cidades de União da Vitória, Palmas e Canoinhas. Em 1991, outro tornado causou 15 óbitos na região de Itu, São Paulo.

Pesquisadores investigam a possível influência das mudanças climáticas no aumento da frequência desses fenômenos, embora essa relação ainda esteja em estudo. A projeção para 2025 indica que o número de casos pode superar os 88 registrados este ano.

Tecnologia e prevenção

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, funciona o laboratório mais avançado do país em estudos sobre o efeito do vento em edificações. Pesquisadores utilizam túneis de vento para testar maquetes de cidades e simular diferentes incidências de vento, produzindo laudos técnicos que já beneficiaram mais de 500 prédios, pontes e estádios.

As normas técnicas estabelecem que construções na região Sul devem suportar ventos de 180 km/h para edificações em geral e até 200 km/h para hospitais. Especialistas afirmam que a aplicação rigorosa dessas especificações poderia prevenir grande parte dos acidentes.

Ernani Lima enfatiza a urgência de investimentos: "Hoje já temos condição de prever condições atmosféricas propícias à formação de tornados com várias horas de antecedência. Isso é algo que o Brasil ainda precisa desenvolver bastante".