Tornado no PR: 1.500 casas destruídas e 7 mortes em Rio Bonito do Iguaçu
Tornado no PR: 1.500 casas destruídas, 7 mortes

Tornado devasta cidade paranaense e expõe vulnerabilidade do Sul

A cidade de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, foi arrasada por um tornado de velocidade excepcional na sexta-feira (07), resultando em sete mortes confirmadas e mais de 800 pessoas feridas. O fenômeno destruiu ou danificou aproximadamente 1.500 residências, segundo levantamento da Confederação Nacional de Municípios.

Sul brasileiro: corredor natural para tornados

O episódio em Rio Bonito do Iguaçu não é um caso isolado. Pesquisadores da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) contabilizaram 23 tornados na região Sul em 2024, de um total de 28 registrados em todo o Brasil. O Paraná e o Rio Grande do Sul lideram com dez ocorrências cada, enquanto Santa Catarina teve três registros.

Estudos históricos revelam que 70% dos tornados brasileiros ocorrem na região Sul. Entre 1975 e 2018, dos 581 tornados documentados no país, 411 aconteceram nos três estados do Sul. A explicação está na posição geográfica da região, que funciona como um verdadeiro corredor atmosférico.

"A suscetibilidade do Sul se deve ao encontro de ventos quentes e úmidos da Amazônia com massas de ar polar originárias do Sul-Sudoeste", explicam meteorologistas. Esse choque de correntes favorece a formação de tempestades severas com movimentos giratórios, que dão origem aos tornados.

Fenômeno de força rara e destruidora

O tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu foi classificado pelo Simepar como F3 na escala Fujita, com ventos estimados entre 300 km/h e 330 km/h. Essa intensidade o coloca entre os mais destrutivos já registrados no Brasil.

O fenômeno se originou de uma supercélula - tempestade severa formada em ambiente de instabilidade atmosférica. O cisalhamento vertical do vento, com variações significativas na velocidade dos ventos em diferentes altitudes, criou as condições ideais para a formação do tornado.

O processo de formação envolve uma corrente de ar fria descendente e outra ascendente que entram em rotação, formando um mesociclone. Desse sistema surge o tornado, que pode se deslocar entre 30 e 60 km/h com velocidade de giro superior a 400 km/h.

Subnotificação e desafios no monitoramento

Apesar dos números expressivos, especialistas alertam que muitos tornados passam despercebidos. A Plataforma de Registros de Tempo Severo (PRETS) contabilizou 1.451 tornados no Brasil entre junho de 2018 e fevereiro de 2025, mas a professora Karin Linete Hornes, do Departamento de Geociências da UEPG, ressalta a subnotificação.

"Muitos tornados acontecem sem que a defesa civil seja acionada. Em comunidades rurais e distantes, as pessoas resolvem os problemas por conta própria", explica Hornes. "A falta de informação faz com que pessoas vão de encontro ao tornado, por exemplo, porque não sabem que não dá para passar."

O Brasil ainda não possui um registro oficial e unificado de tornados, diferentemente dos Estados Unidos, que mantém estatísticas desde 1950. Em 2024, os americanos registraram 1.791 episódios, o segundo maior número da história.

Mudanças climáticas e prevenção

Especialistas alertam que as mudanças climáticas podem aumentar a frequência de eventos extremos como tornados. Michel Mahiques, professor da Universidade de São Paulo, afirmou à Agência Brasil que "a possibilidade de eventos extremos como esse aumenta".

A detecção de tornados iminentes continua sendo um desafio para meteorologistas e órgãos de defesa civil. Em geral, só é possível emitir alertas poucos minutos antes do fenômeno atingir áreas habitadas.

Para se proteger durante tempestades severas, a recomendação inclui:

  • Buscar locais com estrutura de concreto, laje e ferro (como banheiros)
  • Evitar árvores, postes e campos abertos
  • Distanciar-se de estruturas de vidro e portas internas
  • Para quem está em construções frágeis, enrolar-se em cobertores e colchões

Hornes defende maiores esforços de registro de tornados para moldar políticas públicas, redesenhar normas de construção e tornar as cidades mais resilientes a desastres naturais.