Desastres climáticos no Brasil aumentam 1.800% em 30 anos, revela COP30
Ciclones e frentes frias aumentam 1.800% no Brasil

Brasil enfrenta escalada histórica de desastres climáticos

O Brasil vive uma situação sem precedentes no que diz respeito a desastres naturais relacionados a fenômenos climáticos. Um levantamento apresentado nesta quarta-feira, 13 de novembro de 2025, durante a COP30 em Belém, revela dados alarmantes sobre o crescimento desses eventos em território nacional.

O estudo, produzido pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica em parceria com a Unifesp e a Fundação Grupo Boticário, contabiliza 407 desastres entre 1991 e 2024 relacionados a ciclones, frentes frias e ondas de frio.

Crescimento exponencial preocupa especialistas

Os números mostram uma realidade assustadora: o país registrou um aumento de 1.800% na ocorrência desses fenômenos nas últimas três décadas. Enquanto nos anos 1990 a média anual era de apenas 2,3 registros, entre 2021 e 2024 esse número saltou para 44 ocorrências por ano.

O professor Ronaldo Christofoletti, do Instituto do Mar da Unifesp, explica a causa principal desse crescimento: "O oceano está em estado febril. A superfície do mar mais quente libera mais calor e umidade, alimentando sistemas que provocam ventos e chuvas cada vez mais fortes".

Distribuição geográfica e impactos dos desastres

A pesquisa identificou que as ondas de frio representam 54% dos registros, seguidas por ciclones extratropicais (38%) e frentes frias (8%). Embora menos frequentes, as frentes frias funcionam como gatilho para parte dos episódios extremos no território nacional.

O levantamento mapeou 232 municípios afetados, com a maioria (70%) localizada no interior do país. Nessas regiões, predominam os impactos das ondas de frio, especialmente sobre a agricultura familiar e a produção de alimentos.

Já nas cidades costeiras, 93% dos eventos estão ligados a ciclones, que vêm ganhando força e frequência. Os estados do Sul - Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul - concentram o maior aumento recente.

Prejuízos econômicos e humanos

Os danos materiais causados por esses desastres climáticos alcançam números impressionantes. Desde 1991, os prejuízos somam R$ 2,74 bilhões, sendo que apenas nesta década as perdas já superam R$ 1,5 bilhão - quatro vezes mais que na década anterior.

O setor privado, com destaque para a agricultura, responde por R$ 2,5 bilhões dessas perdas. Já o setor público acumula cerca de R$ 200 milhões, principalmente em danos a infraestruturas de energia, transporte e distribuição.

O impacto humano também é significativo: 1,2 milhão de pessoas foram afetadas desde 1991. O número de afetados diretos e indiretos é 40 vezes maior que nos anos 1990. Além das perdas materiais, o estudo aponta que 97% das vítimas sofrem efeitos emocionais e socioeconômicos, como desemprego, traumas e deslocamentos forçados.

Soluções baseadas na natureza

O relatório destaca o papel das Soluções Baseadas na Natureza (SBN) como alternativa para reduzir os impactos desses fenômenos. Manguezais, dunas e recifes podem diminuir o impacto de ressacas e ventos fortes nas cidades costeiras.

Para o interior, recomenda sistemas agroflorestais, rotação de culturas e manejo eficiente da água como ferramentas de adaptação rural.

Durante a conferência, a Fundação Grupo Boticário apresentou a plataforma Natureza ON, desenvolvida em parceria com o Google Cloud e o MapBiomas. O sistema usa dados geoespaciais para mapear vulnerabilidades climáticas e indicar soluções naturais para mitigá-las.

Andre Ferretti, gerente de Economia e Biodiversidade da Fundação, explica: "Qualquer gestor público pode visualizar onde estão as maiores vulnerabilidades climáticas do seu território e quais soluções naturais podem ajudar a reduzi-las".

Contexto da COP30

A COP30 chega à metade com avanços importantes nas negociações sobre financiamento climático e adaptação. O Brasil anunciou novos compromissos para restaurar 60 milhões de hectares de áreas degradadas até 2035 e lançou o Fundo Amazônia+, voltado a projetos de economia verde na região.

O documento apresentado, intitulado "A Força do M(ar): os impactos de frentes frias, ciclones e ondas de frio", faz parte da série "Brasil em Transformação: o impacto da crise climática", que já abordou o aumento das chuvas extremas e o recorde de calor histórico de 2024.

Janaína Bumbeer, gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário, reforça a necessidade de ação imediata: "Fortalecer a resiliência na cidade e no campo significa investir hoje em prevenção e adaptação de longo prazo, colocando a natureza no centro das estratégias de segurança física e econômica".