Veterano da TV: cinegrafista Wilson Carvalho morre aos 64 anos em Natal
Cinegrafista Wilson Carvalho morre em Natal aos 64 anos

O silêncio que paira sobre as redações da TV potiguar nesta terça-feira tem nome e sobrenome: Wilson Carvalho. Aos 64 anos, o cinegrafista que dedicou mais de quarenta primaveras às câmeras partiu de forma repentina, deixando um vazio que vai muito além das lentes que manuseava com maestria.

Natal acordou mais triste. Quem trabalhou com ele sabe — Wilson não era apenas um profissional competente, era daqueles raros seres humanos que transformam o ambiente ao redor. "Um cara que marcou gerações", como me contou um colega emocionado, a voz embargada.

Uma vida dedicada às imagens

Quatro décadas. Parece pouco quando se fala em números, mas são mais de 14 mil dias registrando a história do Rio Grande do Norte através das lentes da TV Assembléia. Wilson testemunhou — e eternizou — momentos cruciais da política, da cultura, da vida potiguar.

E que testemunha! Sempre discreto, quase invisível atrás da câmera, mas com uma presença que todos sentiam. Tinha aquela rara combinação de profissionalismo absoluto com humanidade transbordante.

O adeus que chegou cedo demais

Foi na manhã de terça, primeiro de outubro, que a notícia correu pelos corredores da televisão. Wilson havia sido levado às pressas para o Hospital Walfredo Gurgel — um nome que, infelizmente, aparece com frequência nessas horas difíceis.

As complicações de saúde, essas traiçoeiras silenciosas, foram mais rápidas que qualquer socorro. E assim, num piscar de olhos, perdemos um pedaço da memória visual do nosso estado.

O que fica? Ah, isso é bonito de se pensar. Ficam as imagens que capturou, os momentos históricos que preservou para as futuras gerações. Fica o exemplo do profissional que nunca mediu esforços, que chegava cedo e saía tarde quando a pauta exigia.

O legado que as câmeras não mostram

Mais importante que qualquer reportagem que tenha filmado — e foram centenas, milhares talvez — é o jeito como tratava as pessoas. Os estagiários assustados no primeiro dia de trabalho, os repórteres novatos, os políticos nervosos antes das entrevistas... Todos recebiam um aceno calmante, um sorriso reconfortante daquele homem por trás da câmera.

Numa época onde todo mundo quer aparecer, Wilson preferia o anonimato operacional. Sabia que sua missão era mostrar, não ser mostrado. E cumpriu essa missão com uma dignidade que hoje parece artigo raro.

O corpo está sendo velado no Memorial Jardim de Natal, no Planalto, e o sepultamento acontece no cemitério do Alecrim — dois lugares que, de formas diferentes, guardam histórias. Assim como Wilson guardou tantas através de suas lentes.

À família, aos amigos, aos colegas de profissão: fica a dor da falta, mas também o orgulho de ter convivido com um verdadeiro mestre das imagens. O Rio Grande do Norte perdeu hoje muito mais que um cinegrafista — perdeu um contador de histórias silencioso, porém essencial.