Caminhoneiros passam o Natal na estrada: saudade e adaptação longe de casa
Caminhoneiros celebram Natal na estrada, longe da família

O som do chiado de uma panela de pressão sobre um fogareiro improvisado marca o ritmo do Natal para Juarez Assis Santos. Aos 63 anos, ele prepara sua refeição não em uma cozinha convencional, mas no interior da cabine de seu caminhão, estacionado à beira da estrada. Esta será a primeira vez, em décadas, que ele não passará as festas de fim de ano ao lado da família.

Da planilha ao volante: uma mudança de vida aos 63 anos

Há um ano e meio, Juarez tomou uma decisão radical: deixou para trás a carreira em um escritório de Recursos Humanos em busca de liberdade nas rodovias brasileiras. A rotina de horários fixos, reuniões e planilhas foi substituída pelo improviso e pela imprevisibilidade da vida sobre rodas. "A gente não tem programação pra nada, o que pra muita gente é um dificultador, pra mim nem tanto", reflete.

No entanto, algumas perguntas são inevitáveis, especialmente em dezembro. "Onde você vai passar o Natal?" é uma delas. "Essa pergunta eu já ouvi umas cinco vezes. E a resposta é 'não sei'", desabafa Juarez em entrevista à TV Integração. Ele reconhece que a saudade é grande neste primeiro Natal longe de casa. "Não é fácil você passar essas datas junto durante anos por décadas e, de repente, ficar só pela primeira vez", completa.

Solidão compartilhada: a celebração entre colegas de profissão

A realidade de Juarez não é única. Para milhares de caminhoneiros, as datas comemorativas são vividas dentro da boleia, longe dos entes queridos, mas muitas vezes dividindo o momento com colegas que compreendem a mesma rotina. André Luiz Freitas Amaral já aprendeu a lidar com a frustração de planos que raramente se concretizam. "A gente planeja o que não tem como ser feito, né", diz, com a voz da experiência. Enquanto espera passar o Ano Novo em casa, ele sabe que o Natal será celebrado em Uberlândia, na companhia de outros caminhoneiros.

Para outros, a estrada é mais do que um emprego; é uma vocação. Eliandro Rosa herdou a paixão pelo ofício do pai, também caminhoneiro. "Meu pai era caminhoneiro, já falecido. Viveu a vida inteira na estrada. Eu aprendi a ter paixão por isso", conta, explicando que, se não fosse pelo caminhão, sua vida ainda estaria ligada às rodovias de alguma forma.

Rodovias movimentadas carregam mais do que carga

Neste fim de ano, as estradas da região do Triângulo Mineiro e Noroeste de Minas estão entre as mais movimentadas do país. Os gigantes do asfalto dividem espaço com carros, ônibus e motos, formando um fluxo contínuo de pessoas e mercadorias. São esses caminhões que transportam alimentos, presentes e, em última análise, os sonhos de reencontro para milhões de brasileiros.

Para quem vive dessa rotina, como Juarez, André e Eliandro, o desejo de fim de ano vai além de qualquer presente. O maior anseio é simples e direto: conseguir trafegar com segurança hoje para ter a certeza de poder voltar para casa amanhã. Enquanto as famílias se reúnem para as ceias, esses profissionais mantêm o país abastecido, transformando a cabine do caminhão em seu lar temporário e encontrando, no calor da panela de pressão e na companhia de colegas, um pouco do espírito natalino.