COP 30: Desafios da aviação regional ameaçam acesso a Belém
COP 30 expõe gargalos da aviação regional brasileira

A 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), que acontece em Belém entre 10 e 21 de novembro, está colocando em evidência os graves desafios da aviação regional brasileira. Participantes de várias regiões do país enfrentam verdadeiras maratonas aéreas com múltiplas conexões para alcançar a capital paraense.

Jornadas exaustivas até Belém

O internacionalista Natan Schumann, natural do Rio Grande do Sul, relata uma experiência que ilustra bem o problema. Sua viagem de ida inclui voos de Porto Alegre para Congonhas e depois para Belém, com chegada prevista às 13h40. Porém, o retorno será muito mais complicado: ele sairá de Belém às 1h50 de sábado, passando pelo Galeão no Rio de Janeiro, depois Curitiba e finalmente Porto Alegre, em uma jornada que supera 12 horas.

Situação ainda mais complexa vive Eloize Inês, do Mato Grosso do Sul. Seu deslocamento total chegará a quase 12 horas, começando com uma viagem de ônibus de seis horas entre Corumbá e Campo Grande, seguida por conexões aéreas em Brasília e Macapá antes de finalmente alcançar Belém.

Os gargalos estruturais da aviação regional

Segundo especialistas, os problemas vão muito além da COP 30 e refletem desafios crônicos do setor. O combustível representa um dos principais entraves, podendo chegar a 70% dos custos totais em aeronaves menores, conforme explica Ronei Glanzmann, CEO da MoveInfra.

Glanzmann destaca que a logística para transportar combustível até áreas remotas é complexa e cara, além da concentração da distribuição do querosene de aviação em poucas refinarias. Como solução, ele defende o uso de aeronaves híbridas que transportem passageiros e cargas simultaneamente, ajudando a remunerar melhor os voos.

Iniciativas governamentais e judicialização

Clarissa Barros, secretária nacional substituta de Aviação Civil, ressalta que um avanço importante foi tornar a aviação regional um tema de relevância para os três poderes da República. O programa AmpliAr busca modernizar e expandir a infraestrutura dos aeroportos regionais, com foco especial na Amazônia Legal e Nordeste.

Entretanto, o Brasil responde por 90% da judicialização do setor aéreo mundial, conforme alerta Tiago Chagas Faierstein, diretor-presidente da Anac. Este alto índice de judicialização assusta potenciais novas companhias aéreas interessadas em operar no país.

Preparações para a COP 30

Para enfrentar o desafio da conferência climática, a Anac mantém contato direto com a concessionária do aeroporto de Belém. As companhias aéreas aumentaram em 30% a oferta de voos, e uma equipe da agência ficará no local 24 horas por dia durante o evento.

O Ministério de Portos e Aeroportos informou que entre 1º e 23 de novembro espera atender cerca de 508 mil passageiros em mais de 3.100 voos comerciais - quase o dobro da movimentação registrada no mesmo período do ano passado.

Enquanto isso, participantes como Natan e Eloize se preparam para suas jornadas épicas, demonstrando na prática os desafios que o Brasil precisa superar para garantir conectividade aérea adequada em todas as suas regiões.