Maior tragédia em quase 80 anos abala Hong Kong
O incêndio que devastou o conjunto residencial Wang Fuk Court, localizado no distrito de Tai Po, em Hong Kong, já causou 128 mortes confirmadas, conforme balanço divulgado nesta sexta-feira, 28 de novembro de 2025. As autoridades encerraram oficialmente as operações de resgate, mas alertam que o número de vítimas pode aumentar significativamente, já que aproximadamente 200 pessoas continuam desaparecidas.
Detalhes da tragédia e investigação
O fogo teve início na tarde de quarta-feira, 26 de novembro, e se alastrou rapidamente por sete dos oito blocos de 32 andares que compõem o complexo habitacional. O local abrigava mais de 4.600 moradores, transformando-se no cenário da maior tragédia da cidade desde 1948, quando um incêndio em armazéns provocou 176 mortos.
As investigações iniciais revelam uma combinação preocupante de fatores: negligência, falhas estruturais e possível corrupção. O órgão anticorrupção de Hong Kong já efetuou oito prisões de pessoas ligadas às obras de reforma do complexo, incluindo um consultor de engenharia, um subcontratado de andaimes e um intermediário.
No dia anterior, a polícia havia detido dois diretores e um engenheiro da Prestige Construction, empresa responsável pelas melhorias no residencial. Eles são investigados por homicídio culposo e pelo uso de materiais altamente inflamáveis, como placas de espuma que bloqueavam janelas e podem ter acelerado dramaticamente a propagação das chamas.
O secretário de Segurança, Chris Tang, confirmou que os alarmes contra incêndio falharam durante a tragédia. Moradores relataram que as telas e andaimes instalados para a reforma criaram um ambiente propício para o alastramento do fogo, situação ainda mais preocupante considerando que, em 2024, o governo havia classificado o local como de "baixo risco", apesar das queixas dos residentes.
Consequências e resposta às vítimas
Com o encerramento das operações de resgate, as famílias começaram nesta sexta-feira o doloroso processo de reconhecimento dos corpos recuperados pelos bombeiros através de fotografias. Até o momento, apenas 39 das 128 vítimas foram formalmente identificadas.
Entre os desaparecidos estão 19 trabalhadoras domésticas filipinas. O consulado da Indonésia confirmou que duas de suas cidadãs morreram no incêndio. Hong Kong abriga aproximadamente 368 mil empregados domésticos estrangeiros, a maioria originária de países do Sudeste Asiático.
A solidariedade emergiu como resposta imediata à tragédia, com mais de 900 voluntários montando um centro de apoio improvisado em um shopping próximo ao complexo. Eles distribuem alimentos, roupas, produtos de higiene e oferecem assistência psicológica às famílias desabrigadas.
O líder de Hong Kong, John Lee, anunciou a criação de um fundo equivalente a US$ 39 milhões para ajudar os sobreviventes. Grandes empresas chinesas também se comprometeram com doações adicionais.
Esta tragédia evidencia os riscos inerentes à densidade populacional de Hong Kong, uma das cidades mais adensadas do mundo, repleta de complexos habitacionais verticais. Os preços exorbitantes dos imóveis já eram motivo de descontentamento crônico, e analistas alertam que esta catástrofe pode intensificar o ressentimento contra as autoridades, mesmo diante dos esforços para reforçar o controle político e de segurança nacional.