Linha com cerol: assassinato de bióloga completa 1 mês sem respostas no Acre | Justiça em silêncio
Bióloga morta por cerol: 1 mês sem respostas no Acre

Exatamente trinta dias se passaram. Trinta dias de um silêncio que dói mais que o grito mais agudo. E a pergunta que não quer calar: até quando a família de Maria Helena Felício vai esperar por respostas?

A cena parece saída de um pesadelo distorcido – algo que você esperaria ver num filme de terror, não nas ruas de Rio Branco. Era 19 de julho, um sábado comum até aquele instante fatal. Maria Helena, 54 anos, bióloga respeitada, vida dedicada a estudar a natureza, foi literalmente decapitada por uma linha de pipa com cerol enquanto caminhava. Sim, você leu certo. Cerol. Aquela mistura assassina de cola e vidro moído que transforma uma brincadeira de criança em arma letal.

O delegado Geraldo Paracampos, da Delegacia de Homicídios, assume com uma frustração palpável: "As investigações esbarraram. Não temos imagens que mostrem o momento exato, nem quem estava manuseando a pipa". Imagina só? Um crime tão brutal, tão público, e zero testemunhas dispostas a falar. Zero pistas concretas. É de cortar o coração – com o fio da mesma indiferença que matou Maria Helena.

O Grito Silencioso de Uma Família

Do outro lado dessa tragédia, uma família despedaçada. A irmã da vítima, que prefere não ver seu nome estampado na mídia, fala com uma voz embargada pela dor que não passa. "Ela era uma pessoa maravilhosa. Não merecia partir assim, de uma maneira tão horrível". E o desabafo mais cru: "Está sendo muito doloroso não ter nenhuma resposta".

É aqui que a coisa fica ainda mais surreal. O tal laudo do Instituto Médico Legal (IML) – aquele documento crucial que poderia dar alguma direção – ainda não ficou pronto. Um mês depois! A Polícia Civil joga a culpa no IML, diz que precisa do laudo pra definir se enquadra como homicídio doloso (com intenção) ou culposo (sem intenção). Enquanto isso, o assassino – ou assassinos – continua solto. Provavelmente empinando pipa por aí.

Um Perigo que Todos Ignoram

E esse não é um caso isolado, não se engane. Só no ano passado, o Corpo de Bombeiros do Acre registrou 14 ocorrências relacionadas a cerol. Quatorze! E isso são só as que foram parar num boletim. Quantos quase-acidentes não foram registrados? Quantos sustos foram abafados?

O cerol é proibido por lei estadual desde 2019. A Lei nº 3.831, pra ser exato. Mas, como tantas outras leis neste país, parece mais uma sugestão do que uma regra. A punição? Multa de R$ 500,00, que pode triplicar em caso de reincidência. Quinhentos reais por uma vida? O valor de um celular popular? É isso que vale a existência de alguém como Maria Helena?

O que esse caso revela é uma ferida urbana muito mais profunda. Fala sobre nossa incapacidade coletiva de enxergar o perigo no óbvio. Sobre a cultura do "nunca vai acontecer comigo" que custa vidas. E, acima de tudo, sobre a morosidade de um sistema que deixa famílias inteiras definhando na espera por um mínimo de justiça.

Maria Helena Felício tinha uma carreira, sonhos, uma história. Foi reduzida a uma estatística mórbida e a uma investigação parada. Enquanto o laudo não sai e as pistas não aparecem, sua memória aguarda – assim como sua família – por um desfecho que talvez nunca chegue. E a pergunta que fica, ecoando pelas ruas de Rio Branco, é assustadora: quem será o próximo?