
O caso que chocou Belo Horizonte no início deste ano acaba de ganhar um capítulo absolutamente inesperado—daqueles que mudam tudo. Quem diria que uma confissão surgiria assim, do nada, meses depois da tragédia? O empresário Fábio André Costa, dono da empresa responsável pelos outdoors que estavam sendo removidos no fatídico dia, assumiu a culpa pela morte do gari Wallace Oliveira de Assis.
Não foi um acaso, não foi um destino cruel—foi, nas palavras dele mesmo, uma sequência de negligências que poderiam ter sido evitadas. A defesa do homem já vinha tentando um acordo com a família da vítima, mas agora... agora a coisa ficou séria de verdade.
O Dia que Tudo Aconteceu
Era 19 de fevereiro. Wallace, de 33 anos, trabalhava numa operação de remoção de placas publicitárias na Avenida Amazonas quando uma estrutura de metal simplesmente desabou. Ele não resistiu. O laudo do IML foi brutal: traumatismo craniano severo. Na época, a empresa terceirizada que o empregava, a Imperio Serviços, levou a maior parte das culpas—mas sabiamos que algo não fechava direito.
Os bombeiros que atenderam a ocorrência disseram, na época, que a estrutura não tinha nenhum tipo de reforço ou amarração. Algo completamente fora dos padrões. Algo que, convenhamos, não era responsabilidade do gari—era de quem instalou aquele trambolho.
A Reviravolta Judicial
A confissão do Fábio André muda o jogo todo. Inicialmente indiciado por homicídio culposo (sem intenção), ele agora assume que errou—e que errou feio. A Promotoria já havia pedido a reclassificação para homicídio doloso (quando se assume o risco), mas a confissão deve acelerar esse processo de uma maneira que ninguém antecipava.
Numa entrevista concedida esta semana, ele não mediu palavras: "Assume toda a responsabilidade pelo ocorrido". Não jogou pra terceirizada, não botou a culpa no vento ou na sorte. Assumiu. E isso é raro—muito raro—nesse tipo de processo.
E Agora, o que Esperar?
O acordo com a família, que inclui pensão e indenização, ainda está sendo negociado. A viúva de Wallace, grávida na época do acidente, já deu à luz—e agora cria sozinha o filho que ele não conheceu. É pesado. Muito pesado.
Do ponto de vista penal, a confissão tende a reduzir a pena—mas a promotoria ainda insiste na tese do dolo. Ou seja: ele sabia dos riscos? Ignorou normas? A resposta, agora, parece óbvia.
Além disso, a Justiça do Trabalho também corre em paralelo—com pedidos de indenização por danos morais e materiais. A família quer justiça—e agora, finalmente, parece estar mais perto disso.
Este caso escancara uma velha conhecida nossa: a cultura da terceirização irresponsável. Empresas terceirizadas assumindo serviços perigosos sem supervisão adequada, sem treinamento, sem nada. E no final, quem paga é sempre o mesmo: o trabalhador.
Wallace era gari. Trabalhava todos os dias. Sonhava em ver o filho nascer. E uma decisão errada—ou várias—acabou com tudo. A confissão do empresário não vai trazê-lo de volta—mas pode, quem sabe, servir de alerta. Para que outras vidas não se percam da mesma forma.