
Imagine começar o dia sabendo que o simples ato de ir trabalhar pode colocar sua vida em risco. Essa não é uma premissa de um filme de ficção, mas a realidade crua para milhões de pessoas. E o vilão? O calor, aquele mesmo que a gente reclama no almoço de domingo.
Segundo um levantamento recentíssimo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), braço forte da ONU, a exposição a temperaturas de lascar no serviço é responsável por nada menos que 19 mil óbitos por ano. Sim, você leu certo. Dezenove mil. É gente pra caramba, uma tragédia que passa quase que despercebida.
Os Números que Ninguém Quer Ver
O relatório, divulgado agora em agosto de 2025, vai além das mortes diretas. Estima-se que mais de 2 milhões de anos de vida sejam perdidos anualmente devido a incapacidades geradas por doenças relacionadas ao calor. É um baque na economia, mas, principalmente, um baque humano irreparável.
E não para por aí. Quase 23 milhões de pessoas acabam se acidentando no trabalho por causa desse mesmo fator. Tontura, desidratação, falta de concentração... são consequências perigosíssimas para quem opera máquinas ou precisa estar alerta.
Quem está na Linha de Fogo?
Não é todo mundo que pode ligar o ar-condicionado e fugir do problema. Os setores mais vulneráveis são justamente aqueles que mantêm o país de pé:
- Trabalhadores rurais: Passam o dia inteiro no sol, plantando e colhendo o alimento que chega à nossa mesa.
- Construtores civis: Erguem prédios e casas sob um calor de derreter o asfalto.
- Profissionais de industrias: Muitas vezes em ambientes abafados e próximos a fornalhas.
São os empregos essenciais, mas frequentemente esquecidos. A gente só lembra deles quando falta algo, não é mesmo?
Um Problema que só Vai Piorar
Aqui é que a coisa fica ainda mais assustadora. Com as mudanças climáticas batendo na porta – e entrando sem pedir licença –, a tendência é que esse cenário piore. E muito. A previsão é de que, nas próximas décadas, o estresse térmico no trabalho se intensifique, especialmente em regiões que já são naturalmente quentes.
O relatório da OIT é um grito de alerta. Ele aponta que a produtividade global pode despencar por causa disso, equivalentemente a 80 milhões de empregos em tempo integral sumirem do mapa. Um rombo econômico monstruoso, mas que ainda parece pequeno perto do custo em vidas.
E o que fazer? Tem saída?
Claro que tem! A ONU não apenas aponta o problema, mas também ilumina o caminho. A solução passa por uma combinação de fatores:
- Leis mais rígidas: É preciso criar e, principalmente, fazer cumprir regulamentações que garantam pausas, sombra, água fresca e acesso a equipamentos de proteção.
- Tecnologia a favor da vida: Investir em vestimentas térmicas, sistemas de ventilação e monitoramento da saúde dos trabalhadores.
- Conscientização: Muitos empregadores e até os próprios funcionários subestimam o perigo. Informação é a primeira defesa.
No fim das contas, é uma questão de dignidade. Ninguém deveria ter que escolher entre o sustento da família e a própria vida. O calor no trabalho não é mais apenas um incômodo, é uma emergência de saúde pública. E ignorar isso está nos custando caro. Muito caro.