
O rio Tapajós, normalmente tão sereno, transformou-se num palco de puro terror na última segunda-feira. Imagine só: uma embarcação apinhada de gente, a tranquilidade do passeio dando lugar ao caos absoluto quando as águas começaram a invadir o barco. E no meio disso tudo, o desespero de quem luta pela própria vida e pela dos outros.
Raimundo Nonato Ferreira, um dos sobreviventes, ainda parece estar processando o que viveu. Sua voz embarga ao lembrar dos momentos mais críticos. "A água entrou de repente, num piscar de olhos", conta ele, ainda visivelmente abalado. "O pânico tomou conta de geral - gritos, choro, gente correndo sem saber pra onde ir."
Mas foi no meio desse inferno aquático que surgiram histórias de bravura impressionantes. Adultos formando correntes humanas para passar crianças para lugares mais seguros. Jovens ajudando idosos a alcançarem os coletes salva-vidas. Até mesmo tripulantes que, mesmo assustados, mantiveram a calma para organizar o resgate.
Os Momentos Mais Críticos
O que mais marca na narrativa de Raimundo são os detalhes. Pequenos gestos que fizeram toda a diferença entre a vida e a morte. Ele mesmo ajudou a salvar duas crianças que estavam se afogando, puxando-as pela roupa enquanto tentava se manter à tona.
"Parecia que o tempo tinha parado", descreve. "Cada segundo durava uma eternidade. A gente ouvia os gritos, via o desespero nos olhos das pessoas, mas também via muita coragem. Gente se arriscando para salvar desconhecidos."
A Chegada do Socorro
Quando os primeiros barcos de resgate apareceram no horizonte, veio um alívio misturado com nova ansiedade. Como priorizar quem precisava mais de ajuda? Idosos já debilitados, crianças chorando, adultos em estado de choque.
Os bombeiros e voluntários que participaram do resgate trabalharam contra o tempo. O balanço final: todas as 34 pessoas a bordo salvas, mas não sem sequelas emocionais profundas. Muitos perderam tudo - documentos, dinheiro, pertences pessoais - mas ganharam a chance de contar sua história.
O que resta agora é investigar as causas do acidente. Especula-se sobre superlotação, possíveis problemas estruturais na embarcação ou até condições do rio naquele dia. A Marinha já abriu inquérito para apurar responsabilidades.
Enquanto isso, as comunidades ribeirinhas seguem em alerta. Afinal, o transporte fluvial é vital para essas populações. E ninguém quer reviver o pesadelo que Raimundo e outros sobreviventes testemunharam nas águas do Tapajós.