A rotina da vendedora Luíza Dutra, de 48 anos, ilustra o desafio diário de se locomover em São Paulo. Moradora do Jardim Ângela, na zona sul, ela costuma cruzar a cidade até a Bela Vista, no centro, para trabalhar no comércio da família. Na semana passada, optou por ir de carona com o marido e levou quase duas horas no trajeto. "De ônibus acho que teria chegado uma meia hora antes", comenta ela, destacando uma ironia do trânsito paulistano.
Números da Lentidão: Um Dezembro Mais Congestionado
O relato de Luíza reflete uma realidade confirmada pelos números oficiais. Conforme dados da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), houve um aumento de 7,2% na lentidão média registrada nos primeiros 15 dias úteis de dezembro deste ano, comparado ao mesmo período de 2024. A média de extensão de congestionamentos saltou de aproximadamente 478 km no ano passado para 515 km neste ano.
Esse crescimento é significativo quando se observa que a frota de veículos da cidade, conforme o último dado disponível (de novembro), era apenas 2% maior que a de novembro de 2024. Em dias que antecedem o Natal, os índices já se aproximam dos 570 km de lentidão registrados em 2019, patamar anterior à pandemia. A piora é uma tendência consolidada a partir de 2021.
Dezembro foi particularmente crítico em horários de pico. Por 15 vezes, entre 16h30 e 20h30, os congestionamentos ultrapassaram a marca de 1.000 km. Um pico ocorreu no dia 9, quando uma paralisação de motoristas de ônibus contribuiu para a CET registrar 1.486 km de vias engarrafadas às 19h. Essa foi a maior marca do ano, ficando perto do recorde de 1.510 km, anotado em 9 de agosto de 2024.
Mudança de Hábito: Individual Supera Coletivo
Para o consultor em mobilidade urbana e professor do Insper, Sérgio Avelleda, a sequência de estatísticas negativas é uma tendência clara. "Temos observado os índices de engarrafamento piorando, justamente porque há aumento no uso do transporte individual", afirma.
O especialista cita a Pesquisa Origem e Destino do Metrô, divulgada em fevereiro, que mostrou um marco histórico: pela primeira vez, os deslocamentos usando transporte individual (carro, aplicativo, táxi ou moto) superaram os feitos por transporte coletivo na Grande São Paulo.
"A maneira de reverter esse índice é desestimular a utilização do automóvel e estimular transporte público e mobilidade ativa [bicicleta e deslocamentos a pé]", defende Avelleda. Ele é taxativo: "Qualquer solução que ofereça viaduto, ponte ou túnel para automóvel implica no estímulo [ao trânsito]."
Operações da CET e o Efeito das Compras de Fim de Ano
Em nota, a CET informou que montou uma operação especial de trânsito nas regiões do Brás e da rua 25 de Março, importantes polos de comércio popular, durante novembro e dezembro. A companhia alerta que o grande fluxo de pedestres nessas áreas pode causar bloqueios momentâneos nas vias, agravando os engarrafamentos.
Agentes também atuam de forma intensiva em outros centros comerciais, como São Miguel Paulista e Penha, na zona leste, e no Piqueri, na zona norte. Locais com decorações natalinas, como as imediações da avenida Paulista, do parque Ibirapuera e do parque Villa Lobos, também recebem atenção especial.
Apesar do aumento da circulação, a CET ressalta que as médias de lentidão tendem a cair nos períodos da manhã e da tarde em dezembro. Isso ocorre devido à diminuição das viagens cotidianas, influenciada pelas férias escolares e corporativas. As equipes monitoram as vias para garantir segurança aos pedestres e fluidez ao trânsito, além de agilizar remoções e operar semáforos.
Em nota separada, o STF decidiu, por unanimidade, que mulheres em situação de violência têm direito a benefício previdenciário ou assistencial, conforme seu vínculo com a seguridade social. A decisão foi anunciada pela Agência Brasil em 18 de dezembro de 2025.
