Médico palmeirense morre em Lima: ônibus irregular e motorista sem habilitação
Médico palmeirense morre em acidente com ônibus irregular em Lima

A morte do médico brasileiro Cauê Brunelli Dezotti, de 38 anos, durante um passeio turístico em Lima, no Peru, revelou uma série de irregularidades no serviço de transporte contratado por torcedores do Palmeiras. O acidente, que ocorreu na sexta-feira, 28 de outubro, na ponte Bajada de los Baños, no distrito de Barranco, levou a Autoridade de Transporte Urbano para Lima e Callao (ATU) a identificar falhas graves.

Irregularidades no transporte turístico

A ATU divulgou um comunicado informando que o ônibus de dois andares em que Cauê estava não era autorizado a realizar serviço de transporte turístico. Além disso, o motorista do veículo não possuía habilitação adequada para conduzir esse tipo de automóvel.

A empresa responsável, Solbus Transporte Turístico E.I.R.L., embora esteja habilitada para o serviço, operava com uma unidade específica sem a devida permissão. Por essa infração, a empresa receberá uma multa de S/ 21.400 (soles peruanos), equivalente a quatro Unidades Impositivas Tributárias.

A autoridade também determinou que, ao final da investigação policial, o ônibus será recolhido a um depósito da ATU. Como o veículo tem mais de 15 anos de uso, será considerado apto para ser sucateado.

Relatos de risco durante o passeio

Um torcedor que estava em outro ônibus do mesmo comboio, e que preferiu não se identificar, relatou ao g1 que o perigo era perceptível desde o início. Ele contou que muitos passageiros subiram nas cadeiras para colocar a cabeça para fora do segundo andar, que é aberto.

"Todos os torcedores sabiam que tinha risco porque a gente, logo no começo, viu que tinha muitos cabos, cabos soltos de telefone", disse. Ele mencionou que duas pessoas já haviam sido atingidas por cabos de telefonia no rosto e na nuca durante o trajeto inicial.

Mesmo com alertas sonoros de uma funcionária do ônibus, que pedia para os passageiros não ficarem em pé, e com o motorista avisando sobre obstáculos, parte do grupo desobedeceu. O próprio torcedor relatou ter subido em um momento, mas ter se assustado com a quantidade de cabos baixos.

O momento do acidente foi traumático para os que estavam nos veículos próximos. "Quando a gente passou por essa ponte, eu me assustei. O pessoal reagia: 'ah, dá pra passar lá'. Eu falei: 'cara, sai daí, baixa, baixa, porque olha ali a ponte'", detalhou ele, contando que precisou empurrar outras pessoas para se abaixar.

Quem era Cauê Dezotti

Cauê Brunelli Dezotti era um médico urologista, especializado em cirurgia robótica, natural de Limeira, no interior de São Paulo. Ele tinha consultórios em Limeira e Campinas e atuava como professor da Faculdade São Leopoldo Mandic, em Araras (SP). Solteiro e sem filhos, era descrito por sua faculdade como um "profissional exemplar e ser humano de qualidades ímpares".

Ele estava em Lima para acompanhar a final da CONMEBOL Libertadores entre Palmeiras e Flamengo, marcada para o sábado, 29 de outubro. O passeio do "Circuito de Playas" reunia quatro ônibus turísticos de dois andares com torcedores do clube paulista.

O corpo do médico está no Instituto de Medicina Legal de Lima. O transporte para o Brasil está previsto para quarta-feira, 3, ou quinta-feira, 4 de novembro, organizado por uma funerária de Limeira com apoio da Embaixada do Brasil em Lima.

Repercussão e investigações

A polícia peruana segue investigando o caso. O chefe da Região Policial de Lima, Enrique Felipe Monrroy, afirmou que, segundo relatos, os torcedores estavam saltando no segundo nível do ônibus e não viram a ponte, se chocando contra ela.

O Palmeiras emitiu uma nota lamentando profundamente o falecimento do torcedor e prestando solidariedade à família. O prefeito de Limeira, Murilo Félix, também manifestou pesar, destacando a dedicação e o profissionalismo do médico, cuja partida representa uma "grande perda para a comunidade".

A ATU, em seu comunicado, lamentou profundamente o ocorrido e enviou condolências aos familiares e amigos da vítima. A instituição ressaltou que, após as investigações policiais, novas multas ainda podem ser aplicadas à empresa responsável pelo serviço irregular.